Amigos Animes

Fugirei um pouco da crítica nesta postagem e mostrarei hoje uma de minhas aventuras num texto literário. Essa crônica ficou no arquivo por quase um ano. Foi desenterrada por conta da época do ano em que estamos e para movimentar o blog, de fato. Veremos como será a repercussão. Sem imagem de abertura dessa vez. Preguiça. E não está revisado. Preguiça [2].

Jorge sempre gostou de desenhos japoneses. E todo o ano, ele sempre vai às convenções organizadas para aglomerar a maior quantidade de xaropes como ele. Chegava mais um ano e seus amigos começavam a combinar como iriam, em que dia e tudo mais. Jorge, contudo, lembrou-se de traumas nos anos anteriores e ficou enrolando até não dar mais.

Jorge, contudo, tinha uma amiga. Seu nome era Martinha e ela sempre encheu a paciência de Jorge e seu hobbies estranhos. Dessa vez, contudo, Martinha fez questão de acompanhar o colega em sua empreitada nesse evento. Apesar dos diversos avisos de Jorge, aconselhando a garota a não ir porque ela não ia se interessar, a moça não mudou de ideia. Jorge, que não ia, acabou cedendo e, para acompanhar a amiga – e protegê-la de todo o tipo de doido que tem nesse tipo de evento – acabou indo.

Chegara o dia. Recebeu ao menos quatro mensagens da amiga logo cedo. Ah, era sábado. Jorge tem um juramento de que jamais ia acordar antes do meio dia em um sábado. Acabou levantando meio dia e meio. Combinou com a sua amiga encontrá-la no metrô às duas. Era uma hora e meia da tarde e Jorge ainda estava em casa quando começou a receber uma série de mensagens de Martinha descrevendo cada etapa de sua empreitada pela cidade. “Estou saindo de casa”. Cinco minutos depois vinha um “Estou no ônibus para o metrô”. Dez minutos depois “Cheguei no metrô”. “Estou fazendo a baldeação”. “Qual é a estação mesmo?” e etc. Martinha estava empolgada. Jorge, não.

Um dos outros motivos de Jorge ter topado ir ao evento esse ano era porque seria perto da sua casa. Teria que andar um quilômetro, mais ou menos, até o pavilhão onde seria realizado o evento. Enfim, faltando meia hora para as duas, Jorge pega sua mochila, responde a pergunta de Martinha sobre em qual estação deveria descer, tranca a porta de sua casa e começa a descer a rua até o metrô. Jorge, inacreditavelmente, chega às duas. Martinha, que estava tão empolgada, manda uma mensagem avisando que ia demorar “uns cinco minutinhos”. Martinha só chegou às três.

Jorge não parou com os avisos do tipo “você não deveria ter vindo” e coisas do gênero. Martinha não liga para o que Jorge fala. Então ele deu os ombros, resmunga alguma coisa e ambos andam mais uns trezentos metros até o local onde seria realizado o evento. “Martinha, trouxe o seu ingresso?”. “Esqueci”. Ótimo.

Esses eventos são conhecidos por terem uma quantidade absurda de filas. Para tudo. Fila para comprar ingresso, fila para entrar no evento para quem já tinha comprado o ingresso com antecedência, fila para quem comprou o ingresso na hora, fila para as lojinhas, fila para as barraquinhas de comida, fila para o banheiro, fila para a fila do banheiro e coisas do gênero. Jorge então seguiu em direção à fila para quem já tinha o ingresso. Martinha foi em direção à fila para comprar o ingresso. Ela passou então pela fila para quem tinha comprado o ingresso na hora e ambos seguiram em direção à fila de cadastro.

Martinha foi sincera em passar as informações. Jorge mentiu horrores porque sabia que iam correr atrás dele por um período de seis meses porque ele ganharia uma promoção de uma escola de design que promovia o evento. O prêmio seria uma bolsa para estudar lá. Putz, todo o ano ele ganhava essa promoção. Assim como todos os seus amigos também ganhavam a promoção todos os anos. Se Jorge reivindicasse todos os anos que já ganhou, faria o curso de graça. Depois de uma hora e muita burocracia depois, entraram.

Martinha começou a estranhar, já. Ela tinha certeza de que azul não é uma cor natural de cabelo. E olhos vermelhos com pintinhas brancas também não eram alguma coisa geneticamente comum. Depois, começou a notar na roupa das pessoas à sua volta. Não entendia o motivo de uma grande quantidade usar um sobretudo preto com nuvens vermelhas. Estava um baita de um calor. Jorge explicou que era um robe de uma organização pertencente a algum desenho japonês. O moço então sugeriu que fossem para as lojinhas.

As lojinhas eram caras (e tinham filas para passar por elas, entrar nelas e pagar o que quer que tenham comprado). E além de caras, eram quase todas iguais. Jorge estava em busca de uma estatueta de um personagem proveniente de um desenho japonês que gostava. Ficou meio decepcionado porque havia esgotado. No ano anterior, antes da série ganhar destaque, havia muitas delas à venda. Jorge amaldiçoou até a quinta geração desses novos fãs que haviam “roubado” sua estatueta. Além disso, eram todas as lojinhas vendendo exatamente os mesmos produtos.

Jorge sugeriu que ele e Martinha dessem umas voltas pelo evento. Depois de verem malucos fantasiados e mais malucos fantasiados – o que Martinha achou de incrível mal gosto e não se conformava com gente adulta se vestindo daquele jeito – acabaram chegando em um outro estande, maior, onde eram vendidos quadrinhos. Entraram na fila para entrar no estande. Quando finalmente entraram, Jorge puxou uma lista com vários gibis que precisava comprar. Martinha ficou feliz porque finalmente iria poder ajudar. Dos vários nomes da lista, Martinha e Jorge só encontraram um deles. Jorge desistiu de comprar quando viu o tamanho da fila do caixa.

Depois de andarem mais um pouco, a dupla viu dois caras com porretes que se assemelhavam a espadas falsas. “Isso vai ser maneiro”, disse Jorge quando viu que os caras iam começar a brigar um contra o outro com os pseudo-sabres.  O juiz toscamente fantasiado deu um sinal para começarem. Os dois caras começaram a chacoalhar os porretes da forma mais ridícula possível, tentando acertar um ao outro. Só que cada um estava em um canto do ringue e não se aproximaram. A pancadaria não poderia comer solta assim. Jorge olhou para Martinha, que fez uma cara de entediada e puxou Jorge de lá.

Depois de darem algumas voltas, Martinha decidiu que queria ir embora. “Mas a gente só ficou aqui por uma hora”, argumentou Jorge. Martinha falou que ficou cansada e que não queria mais ver malucos fantasiados. Jorge respondeu com um ácido “Eu avisei”. Martinha debochou dele, como sempre faz e ambos foram ao Shopping, onde Jorge acabou fazendo mais cara feia quando ela entrou numa loja de roupas e ele ficou sentado na “poltrona do marido”, embora ele deixe bem claro que não havia nada entre eles e coisa do gênero. Fim.

Sobre o evento, Martinha estava na expectativa e esperava algo interessante. Acabou achando um tédio e aprendeu a lição. Jorge havia jurado no ano anterior que nunca mais viria, porque não queria pagar uma nota preta nos ingressos para pegar fila e não fazer absolutamente nada nesse tipo de lugar. Não pretendia ir neste ano e estava firme com a decisão, mas acabou indo. Ao sair, fez a mesma promessa que fez no ano anterior: Nunca mais voltaria a essas convenções.

Jorge voltou no ano seguinte.

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