Meus Mangazinhusss!!

O primeiro mangá que comprei na vida foi Fullmetal Alchemist. Aquele, em meio tanko e publicado em 2006 ou 2007 pela JBC (eu cheguei a comprar o Electric Tales of Pikachu que a Conrad publicou em forma de gibi quando era moleque, mas esse não conta). Como Fullmetal era e ainda é minha série favorita (foi mal, JoJo), acabei comprando sem pestanejar. Na época, eu nem sabia dessa história de meio tanko e tanko inteiro e achava R$6,50 uma bagatela perto dos mangás a R$9,90 a Panini. É claro que eu sou de humanas e ignorei o fato de FMA ser quinzenal, ser menor e acabar custando R$13,00 por mês enquanto a Panini cobrava quase R$10,00, mas isso era detalhe.

Desde então, eu comecei a acompanhar várias séries. Coleciono Bleach desde o Vol. 1 até hoje. Também tenho Hellsing completo, publicado em meio-tanko. Minha coleção atual conta com as seguintes coleções completas (listadas na ordem em que confiro na prateleira): Bakuman, Evangelion (a republicação), Sakura Card Captors (republicação), Deadman Wonderland, Thermae Romae, Rurouni Kenshin (republicação), Hellsing (meio-tanko), Angry (manwa), Saber Marionette J, Blue Dragon: Ral Grad, Another, Level E, Hero Tales, Afro Samurai, Resident Evil: Biohazard, Eureka Seven, Blood +, Darker Than Black, Fullmetal Alchemist (incluindo os databooks) e o JoJo’s Bizarre Adventure da VIZ que importei há algum tempo, antes mesmo da editora republicar por lá. Incompletos, que ainda estão em publicação, eu coleciono Shingeki no Kyojin, Highschool of the Dead, Katekyo Hitman Reborn!, Pokémon, D. Gray-Man, Dragon Ball, Zetsuen no Tempest e Zetman, Hunter X Hunter, Bleach e JoJolion em japonês (importei os volumes japorongos).

Pausa aqui: É interessante notar as publicações paralisadas no Brasil por estarem paralisadas no Japão, como Hunter x Hunter. É ainda mais interessante ressaltar o meu hábito de continuar colecionando umas séries que eu odeio, tipo Highschool of the Dead.

Continuando, eu estou fazendo esse texto como uma forma de averiguar o mercado de mangás no Brasil sob o ponto de vista de um consumidor e talvez um pouco sob o ponto de vista editorial. Nota que para mim, todo o papel é papel-jornal ou papel sulfite, não fico me preocupando com essas bostas.

Enfim. Eu queria deixar claro que eu nunca fui muito fã da política da Panini. Eu não gosto como ela tenta arriscar uns títulos que posteriormente seriam cancelados sem dó nem piedade, como Kekkaishi (meu irmão compra). Certeza de que se fosse a Panini que publicasse HxH, a série já teria sido cancelada faz tempo. Também nunca fui muito fã dos formatos da Panini, desde moleque. “AIN, MAS ELES SEMPRE DISTRIBUÍRAM O MANGÁ NO PLASTIKINHUUU”. Foda-se. Mais de uma vez a merda desse plástico grudou na capa plastificada do mangá e o plástico do mangá é que soltou, detonando a porra da capa. Sem falar que é muito mais comum a capa da Panini “descascar” com o tempo.

A capa sem-vergonha que descascou. Eu só consegui fazer isso parar com uma gambiarra que eu fiz com cola. É quase imperceptível, mas o estrago já foi feito… E o pior é que esse é um volume que não existe mais vendendo por aí, acho.

Ah, recentemente, mais de uma vez, eu comprei uns mangás da Panini e eles vieram dilacerados. As páginas ou foram mal cortadas, deixando aquela orelha escrota no canto do papel ou sei lá o que aconteceu, pareciam simplesmente comidas ou rasgadas. Aí mandei um e-mail para a Panini e eles falam para enviar para lá que efetuariam a troca. Enviei e demorou horrores para devolverem. Além disso, compensa MUITO MAIS comprar uma cópia nova do mangá do que pagar a taxa do correio que não é nem um pouco barata. Se os mangás não viessem nessa merda de plástico, eu teria folheado e notaria a cagada que eles fizeram.

Admito que a falta de plástico com a JBC seja um problema, uma vez que é comum que os mangás fiquem nas bancas de jornal expostos ao sol, algo que detona aquele papel-jornal. Tirando isso, eu nunca tive nenhum problema com os mangás da JBC, principalmente aqueles que eram constantemente atribuídos à editora, como capa amassada e folhas caindo depois de um tempo. A capa amassada é só conferir na hora de comprar na banca. Folhas caindo eu não presenciei nem com o Fullmetal Alchemist, que cismei de reler recentemente e é o mais antigo da minha coleção.

O grande foco desses comentários, contudo, é para avaliar o quanto o mercado de mangás cresceu aqui no Brasil. Ele começou tímido com uns títulos de peso, como Dragon Ball, e em meio-tanko, atrás de uma aceitação maior do público, para introduzir então o Tanko inteiro. As editoras, de vez em quando, arriscavam uma edição de luxo, como foi com a Conrad e o Kajika (comprei numa livraria), além de Dragon Ball que foi republicado em Kanzenban (que eu tinha até decidir vender tudo – e me arrependi disso). Até então, rolava aquele formato padrão com o papel-jornal e capa de papel-cartão – não estou me atendo aos nomes técnicos – e siga a vida.

De uns tempos para cá, principalmente com a chegada do Cassius na JBC, é notável que esse formato-padrão tem mudado. Digo, as primeiras republicações da JBC – Cavaleiros do Zodíaco e Evangelion – contaram com uma borda roxa horrorosa na capa e vieram numa edição comum, igual aos outros mangás publicados. A primeira tentativa que eu me lembro de fazer algo mais caprichadinho foi com Sakura Card Captors. A edição custava R$16,90, era no papel sulfitão e uma capa um pouco mais grossa, além das ilustrações coloridas no meio. Aliás, isso me lembra de que a Conrad publicava no sulfitão também, mas o hábito mudou provavelmente por uma questão de preço. No entanto, os caras tiveram a audácia de botar a borda – só que rosa – e o título em COMIC SANS. Aí é de foder o cu do balão.

A porcaria das bordas na lateral. No começo eu não me preocupava, mas depois eu fui percebendo que é tosqueira.

Foi quando chegou o Cassius botando o caralho na mesa e a primeira republicação de respeito apareceu. Rurouni Kenshin veio com o mesmo formato de Sakura, mas sem as bordas horrorosas, um logotipo que não seja em Comic Sans e um preço mais confortável: R$13,90.  Comento que é muito mais confortável ler no sulfite, o branco do papel contrasta muito melhor na tinta do que o papel-jornal, evidenciando a qualidade da arte do mangá. Desde então, esse virou o padrão para republicações da JBC. YuYu Hakusho veio num formato parecido e Sailor Moon chegou inclusive a ser publicação de livraria. Death Note também ganhou uma edição caprichada, indo para livrarias.

Falando em livraria, queria comentar outro caso interessante. Thermae Romae. Eu acredito que tenha sido uma aposta. Os caras me pegam um mangá com um público relativamente pequeno, maximizam a qualidade física da edição e mandam para as livrarias a R$19,90. Pelo que um contato que trabalhava na JBC me falou, era porque Thermae Romae tinha uma arte muito bonita para as edições normais e uma edição normal na banca acaba estragando rápido. Até onde esse mesmo contato me informou, o mangá não vendeu bem. Compreensível, já que é um produto de nicho. Esse “não vender bem” acabou fazendo a editora republicar o estoque diretamente nas bancas de jornal, porque a livraria não se mostrou um mercado muito promissor na época. (Eu poderia levantar o suposto fracasso de Thermae Romae como um exemplo que nega a vinda de JoJo para o Brasil, mesmo em edição de luxo, mas não vou). Acredito que a JBC tenha visto as livrarias com desconfiança até a republicação de Sailor Moon.

Este ano, contudo, a JBC ficou maluca e começou a chutar o balde. Além de uma caralhada de lançamentos fodas, eles cismaram de mudar de uma vez o formato de publicação dos mangás. Isto é, eles já tinham arriscado algo diferente com Another, com uma capa fosca, ao contrário das brilhantes plastificadas, e um papel um pouco mais grosso. Em 2015, no entanto, eu cheguei a comprar Zetsuen no Tempest e fiquei maravilhado com a edição. Eles imitaram as edições americanas com um papel-jornal bem grosso, dando volume ao mangá, além de uma capa diferente. O formato da edição também está menor. O papel, especificamente, eu achei muito interessante porque, mesmo sendo uma espécie de papel-jornal, a tinta parece fixar muito melhor. Os primeiros mangás da Panini que comprei eram mais ou menos assim. O preto era muito mais vivo e o papel parecia ser um pouco mais grosso, deixando a edição mais gorda. Meus Bleach não conseguem ficar alinhados porque as vinte primeiras edições eram mais ou menos assim.

Dá para ver especialmente entre o 10 e o 16. E acredite, eles estão bem compactados entre aqueles trecos que servem para segurar os livros em pé nas prateleiras.

Outro volume que comprei recentemente e achei lindão foi o Zetman. O mangá veio quase no mesmo formato de Another, só que um pouco mais grosso e com as dimensões um pouco menores, o que facilita a leitura, em minha opinião (dá para segurar com uma mão só e dá para guardar no bolso). Vendo Zetman, eu digo que confio 100% na JBC quando eles decidirem trazer Akira e Ghost in the Shell. Akira, para ser sincero, eu gostaria de umas edições omnibus enormes que os gringos fizeram. Dá pra fazer?

Agora é hora de falar da Panini. Para ser sincero, de elogios, eu queria é colocar a campanha que ela fez no Facebook pedindo sugestão de mangá. O escolhido foi Tokyo Ghoul. Daqui, eu queria analisar um pouco do que motivou essa escolha. Primeiramente, foi o comentário com maior número de curtidas. Isso se deve porque a própria comunidade de Tokyo Ghoul no Facebook é enorme. Quarenta e cinco mil pessoas curtem Tokyo Ghoul BR e aproximadamente cinco mil pessoas curtiram a publicação relacionada, uns 11% do montante. Eu peguei outros pedidos feitos por páginas de comunidades brasileiras – capazes de gerar uma movimentação maior – e fiz a mesma conta. O resultado deu sempre entre 5% e 10%, com uma margem de erro para mais ou para menos de 2%. Ou seja, uma comunidade de sete mil curtidas conseguiu acumular umas setecentas curtidas em sua postagem relacionada.

É claro que isso serviu apenas como um termômetro. Analisando o título com mais curtidas, a editora foi averiguar a viabilidade, conferindo se o preço da demanda compensa o preço do licenciamento, que é caro e depende da quantidade de volumes, do renome da obra e dos olhos dos executivos japoneses da editora em questão para com o mercado brasileiro e o tratamento que as editoras dão para os títulos. Isto é, One Piece e Dragon Ball apanharam para serem republicados porque a Shueisha ficou putaça com o tratamento que a série recebeu anteriormente por aqui. Por outro lado, percebeu que há um padrão nos lançamentos? A JBC publicou as obras do Togashi: Hunter, Level E e YuYu Hakusho. A JBC também publicou por aqui tanto Fullmetal Alchemist quanto Hero Tales, ambos da Arakawa; e Death Note e Bakuman da dupla Obata e Ohba. A JBC publica mangás por autor, enquanto a Panini, por outro lado, deve ter uma relação mais próxima com os executivos da Shueisha com relação aos medalhões mais modernos. Por terem feito um bom trabalho ordenhando Naruto e publicando Bleach, conseguiu os direitos tanto para Dragon Ball e One Piece quanto Toriko, Ansatsu Kyohitsu (Tenho preguiça de buscar, é assim que se escreve?) e Katekyo Hitman Reborn!.

É interessante lembrar que o que repercute positivamente em Fansubs e Scanlators nem sempre significa um bom retorno nas bancas. Isto é, o público de ambos é diferente. A Bandai se fodeu ao publicar Love Hina e Suzumiya Haruhi no Yuutsu nos Stazunidos. Por mais populares que fossem nas comunidades virtuais, as vendas foram uma merda. Há uma avaliação das editoras a respeito do mercado potencial de cada título. Além disso, é necessário averiguar se o custo do licenciamento e eventual produção da série sejam compensados pela demanda. Isto é, uma fanbase pode ser grande, mas se o mangá custar extremamente caro, por maior que seja a tal fanbase, se o fluxo de caixa positivo proveniente da revenda não bater ao menos o mesmo valor (em resumo, a porra das vendas do mangá precisa se pagar), não adianta licenciar. A ideia é minimizar os custos para maximizar os lucros. Ainda mais com a economia instável, não tem como arriscar trabalhar numa margem de lucro mínima. Shingeki no Kyojin e Pokémon são mangás cujo licenciamento deve ser uma paulada, só que o público desses é muito além da otacada. Isto é, eu conheço uma galera que nunca viu um anime na vida que se interessou pela série e assistiu pela internet, mesmo sem o hábito. Pokémon é Pokémon. É um fenômeno transmídia de jogo, anime e o caralho a quatro. Tanto a minha geração quanto as posteriores se interessam pela série. Por isso eu apanhei muito feio para encontrar a primeira edição à venda. Essa porra esgotou rápido.

De um modo geral, o mercado de mangá cresceu muito no Brasil. Hoje, contudo, ele não está tão bom quanto esteve há uns três ou quatro anos. Você observa isso nas bancas de jornais, onde as HQ’s da Marvel e da DC andam engolindo a prateleira onde os mangás eram colocados. Antigamente, era justamente o contrário. Esse crescimento dos gibis se deu principalmente por causa da onda dos filmes de super-heróis que está rolando no cinema, então acredito que seja natural. Ainda assim, num passado, você nunca ia acreditar que alguma editora ia se meter a balão e publicar uns títulos tão malucos como Thermae Romae ou, sei lá, Mad Love Chase. Isso nos abre a cabeça para pensar a respeito de um título que hoje é certamente inviável, daqui uns anos, o mercado possa comportar. Só não pode tentar inventar. Lembra o que aconteceu com Vagabond?  Publicaram uma vez, deu merda. Publicaram a segunda, deu merda mais uma vez. Assim não dá.

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3 comentários sobre “Meus Mangazinhusss!!

  1. Eu tenho um volume apenas de Soul Eater(o ultimo). Infelizmente moro em um lugar bem pequeno esquecido pelo brozil….é geralmente complicado comprar algum mangá que eu queira já que tenho que sair da minha cidade para uma maior(uma hora e meia de viagem não compensa o mangá e os 19 Dilmas que pago pelo mesmo, além de que eles são jogados na prateleira onde todos pegam, amassam, rasgam e talvez até comam pedaços do mangá).

    Respondendo sua pergunta se escreve Ansatsu Kyoushitsu.

  2. Eu tenho raiva de meio tanko. Simplesmente não acreditei quando vi lançarem Hellsing em meio Tanko, quando já estavamos na fucking era do um tanko com mangás da Clamp como X 1999 e o Fruits Basket.

    Aliás, o proprio Fruits Basket reflete bem a merda da JBC. Volume 18 com o mesmo papel jornal de sempre, volume 19 trocam para um mais fino e fragil (tenho essa merda na minha coleção). E a cola sai com o tempo demais, igualzinho a panini.

    Panini foi outra de fazer merda com títulos que colecionei como Angel Sanctuary. Putz, a tradução tá muito cagada! Eu lembro do hate que dei na época.

    Apesar da evolução pro papel sulfite ainda to com o pé atrás com a industria nacional. Precisa mesmo perguntar porque Thermae Romae deu errado? Olha só pro preço! E não adianta fazer edição de colecionador pro Vagabond se o preço do mangá custa um rim. Se for pra ler Vagabond em portugues, ainda prefiro o meio tanko da falida Conrad ou até mesmo scanlator, porque a coisa tá feia.

    Aliás, eu estava de olho em editoras novas como a Nova Sampa (trouxe Oldboy) e a Lumus (titulos interessantes e desconhecidos do publico como Taro Cafe, Grims e 1945), mas parece que o negocio estancou pra elas também.

  3. Pingback: Fullmetal Alchemist Brotherhood: De 2013 a 2016 | Horny Pony

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