Sua dose diária de Dragon Ball

DragonBall

Eu ando numa vibe meio Dragon Ball. Por conta do Dragon Ball Super passando no CN e o FighterZ (que, na real, nem acho que vai ser tão bom assim quanto estão pensando), acabei pegando um tempinho para reler o mangá que tenho guardadinho aqui em casa com o maior cuidado.

De verdade, acho que a saga do Kid Goku é um negócio maravilhoso. Primeiramente porque Dragon Ball, originalmente, não é um mangá de luta. A porradaria era, na verdade, um fio condutor de uma história a respeito de um moleque e de uma garota que estavam atrás das chamadas Esferas do Dragão, capazes de realizar desejos. Baseado no conto chinês Jornada ao Oeste, Akira Toriyama cria uma história de gênero surreal sobre crescimento e evolução pessoal.

Surreal porque o autor pouco se importou em, de fato, estabelecer os elementos daquele mundo, naquele momento. Tem sua base no mito chinês original e em suas características, mas não há regras delimitadas (ou delimitantes) o para aquele universo específico. É uma sequência de aleatoriedades que se fazem presentes sem explicação, como o próprio Kamehame-ha, visto que o conceito de Ki não havia sido introduzido naquela altura do campeonato.

Dito isso, observa-se que o Goku, como protagonista, cresce em sua jornada por conta das viagens que ele passa a fazer, não pelas lutas que trava. O moleque não sabia absolutamente nada do mundo até a Bulma aparecer na sua frente atrás das Esferas do Dragão. Ainda no primeiro arco, cujo fim se dá com ele se transformando em macaco gigante no castelo do Pilaf, ele, em vez de voltar para casa, decide ir até o Mestre Kame aprender mais não apenas sobre lutas, mas sobre o mundo onde vive.

Goku deixa de estar confinado apenas à região da Montanha Paozu. Treinando com o Mestre Kame, ele faz novos amigos (especialmente o Kuririn) e entra no Torneio de Artes Marciais, onde é derrotado pelo próprio Mutenroshi. Lá, descobre que ainda existe gente muito mais forte do que ele e sai à procura da esfera de quatro estrelas. Há o elemento das lutas, mas elas são apenas o que conduzem a história de aprendizado do jovem menino de cauda.

Esse processo agora tem novas etapas, como o jovem garoto conhecendo, pela primeira vez, a cidade grande. Ao fim do arco, depois de virtualmente destruir o exército Red Ribbon, há um salto de um ano, contado em off-screen. Mais uma vez, Goku utilizou esse tempo justamente para viajar mais ainda pelo mundo antes do próximo Torneio e, consequentemente, voltando bem mais experiente. Apesar de ser bem ingênuo, é notável que o pequeno Goku tinha bem mais personalidade do que o robô viciado em lutas do que sua versão adulta.

Com o fim da saga do Piccolo e a chegada do Raditz, o mangá deixa esse tom de surrealismo para se tornar uma história de fantasia espacial. A ideia aqui era transformar o Goku numa espécie de equivalente ao Superman, mas próprio do Japão. Chega a ser gritante a suposta inspiração do garoto que chegou à Terra numa nave especial ainda criança.  Além disso, Dragon Ball deixa de ser sobre o fortalecimento de Goku através de suas viagens e descobertas a respeito do mundo para se tornar simplesmente uma história sobre se tornar o mais forte.

Ainda assim, Dragon Ball Z é legal. Primeiramente por conta da evolução do Piccolo, que deixa de ser aquele Rei Demônio maligno para se tornar, aos poucos, o mais equilibrado e até mesmo sábio dos Guerreiros Z. Aparentemente, entre o Torneio de Artes Marciais, ao fim do Dragon Ball original, e a aparição de Raditz, ele deve ter se acostumado à vida pacata como terráqueo e se tornou uma espécie de tsundere, principalmente porque, queira ou não, ele ensinou mais coisas ao Gohan do que o próprio Goku. Observa-se também que o treinamento que ele aplica ao moleque é duro, mas nunca deixou que o garoto corresse perigo factual, tanto que ele se apegou ao filho de seu ex-inimigo e morreu por conta disso. Depois de ser revivido em Namekusei, Piccolo se funde com o Nail, um guerreiro poderoso e em paz consigo mesmo, o que provavelmente deve ter dado mais uma amenizada na personalidade dele. A conclusão dessa alteração de comportamento e ideais se dá quando ele volta a ser uma única entidade ao se fundir com Kami-sama.

Nota-se que tal ponto foi suficiente para transformar Piccolo, por um breve momento, no mais poderoso guerreiro da série. Aliás, a fusão com o Kami-sama o deixou mais inteligente e sábio do que provavelmente todos os outros personagens, agindo como um ponto de equilíbrio entre os guerreiros-macacões que só querem saber de porradaria. As aparições dele no Dragon Ball GT atestam e completam essa evolução, a começar pelo fato de se sacrificar junto com a Terra para que as esferas do dragão de estrela negra deixem de existir (em uma cena que dá um pau em todo e qualquer momento do Super). Depois, pela sua boa-fé ao abrir mão de uma morte serena no paraíso para resolver as putarias que rolavam no inferno como um zelador da porra toda (ou ainda, um verdadeiro Rei Demônio)

Outro personagem que passou por uma evolução considerável, apesar dos percalços, é o Vegeta. Ele aos poucos foi se transformando do guerreiro sanguinário conquistador de planetas a um tiozão pai de família. A mudança nas suas atitudes chega a ser exemplar, quase comparável com a do Piccolo. É claro, ele, mesmo depois de se aposentar dessa carreira de putinha do Freeza e se acostumar com a vida na terra, teve sua crise de meia idade durante o arco do Buu, quando ele avisa com (muita) clareza que tudo o que ele queria era voltar a ser o Saiyajin porra louca que,  ao lado do seu amante Nappa, destruía todos os planetas que dava na telha — em vez de ser um respeitado pai de família. Se isso não é uma crise de meia idade, eu não sei o que é.

No entanto, é notável, principalmente no Super, que ele logo se torna bem mais responsável como pai e marido do que o Goku. Primeiro, ao contrário do seu rival, Vegeta aprende o que é respeito. Depois de esnobar o Supremo Senhor Kaiô bem durante sua crise (até o Goku, que não tem noção alguma disso, avisa que o cara está passando do ponto: “respeita o cara porque ele é o Supremo Senhor Kaiô, Vegeta”), é nítido como ele mostrou um entendimento do que eé autoridade ao se deparar com Bills, em Batalha dos Deuses — que, por sua vez, foi para o saco quando mexeram com a mulher dele, mostrando o tiozão Letra C que se tornou (ou seja, foi completamente justificável).

Percebe-se também que o Vegeta não está para brincadeira quando luta, ao contrário do Goku, que fica enrolando contra o oponente e esperando que ele use toda sua força (algo que sempre sai pela culatra, visto que o inimigo sempre fica forte demais para ser derrotado posteriormente). Depois da cagada que o Vegeta fez no arco do Cell, que deixou o androide atingir sua forma perfeita só para testar os próprios limites, ele nunca mais cometeu tal erro, fazendo questão de sugerir ao Goku no arco do Buu que ele usasse a Genki-Dama de uma vez, ao invés de ficar tentando vencer o Kid Buu na base do tapa. O mesmo vale quando ele é o principal responsável por fazer a limpa no torneio contra o universo 6. No GT isso acontece também: Depois que a fusão do Gogeta se desfaz, o Vegeta reclama que o culpado de ficar brincando com o Omega Shenron (em vez de acabar com ele logo de cara) foi justamente o próprio Goku.

Falando em GT, eu queria já deixar claro que eu gosto da série e realmente não vejo o motivo de reclamarem tanto, principalmente comparando com a fanfic cara que virou Dragon Ball Super. A começar pelo tema da fase toda, em que dois, dos três arcos principais, têm alguma relação com o título Dragon Ball, visto que DBZ tinha as abandonado como foco central da narrativa. A primeira dessas três sagas, aliás, é bem análoga ao Dragon Ball original, visto que o crescimento dos personagens se dá justamente na viagem que eles fazem pelo universo, não a partir do treinamento ou das lutas. Ainda assim, ressalto que os combates não fazem feio, como é o caso da briga contra o Ledgic (o cara do primeiro planeta que trabalha para o Don Kee) ou contra o General Rildo, o robô mutante com um braço de furadeira.

Nisso, vem o arco do Baby, a transformação em Super Saiyajin 4 — que na minha opinião é menos forçada do que aquela bosta do Super Saiyajin Azul —, e a saga do inferno, essa que, de fato, admito que se parece com uma fanfic. No entanto, ela ganha algum mérito por dois pontos: o primeiro é a questão do Piccolo se tornando o zelador do inferno. O segundo é a forma como o Super 17 bate as botas, homenageando a morte do Rei Piccolo lá no Dragon Ball original, com o Kid Goku. Na sequência, quantidade de mortos durante essa etapa da história leva à justificativa de irem atrás das Esferas do Dragão mais uma vez, no intuito de ressuscitar a galera toda — inclusive o Kuririn. No entanto, as esferas estavam corrompidas de tanto uso e a energia negativa impregnada nelas se materializou em sete dragões malignos que precisam ser derrotados.

Aí entramos no último arco, que julgo fantástico. Primeiro porque ele encerra a história toda com uma narrativa que coloca as próprias Dragon Ball, que justificaram toda a série, como as últimas vilãs da história. Segundo porque essa questão de utilizarem as esferas levianamente já foram levantadas na série Z, com o Velho Kaiô reclamando que elas vão contra a naturalidade das coisas no mundo, então não é nada realmente absurdo ou tirado do cu. E sim, é óbvio que banalizaram a coisa toda: depois que ficou fácil percorrer o mundo atrás das esferas, é possível observar que qualquer merda que acontecia, recorriam a elas. Personagem X morreu? Ninguém se importava porque era só usar as esferas para ressuscitá-lo. Terra destruída? Tem as esferas de Namekusei para restaurá-la. “Quero pegar uma androide gata e não sei como impressioná-la”, irá dizer um certo carequinha cansado de tanto bater as botas. É só reunir as esferas e pedir que a bomba que ela tem no corpo seja desativada, campeão. O Super eleva isso a um novo patamar, quando Gohan usa um desejo para abaixar a febre da Pam. CARALHO, É UMA FEBRE! ESSA PORRA ABAIXA SOZINHA SE TUA FILHA TIVER SISTEMA IMUNOLÓGICO REGULADO.

Dito isso, não acho difícil mentalizar o Vegeta no trono gritando para a Bulma ir atrás das esferas porque o papel higiênico acabou.

Depois da luta contra o Syn Shenlong, que exigiu a criação de uma Genki Dama de todo o universo para ser derrotado — uma espécie de metáfora escarrada que insinua que a força que derrotou o Dragão foram justamente as amizades feitas ao longo da história. Isso é uma aplicação exemplar da Jornada do Herói de Campbell, que deixa claro que o que importa de qualquer narrativa não é o seu fim, mas a evolução que o herói passa durante sua aventura. O final, com o Goku viajando nas costas do Shenlong, também é uma referência a isso, especificamente à etapa da Liberdade para Viver (Freedom to Live, na citação original), em que o herói transcende a um estado em que ele simplesmente derrota o inimigo supremo e final de qualquer indivíduo: a morte.

Essa derrota não é simplesmente superá-la (de forma simplista, tornando-se imortal), mas sim entendê-la como parte do processo de viver e aceitá-la. É quando o herói não se importa mais com o futuro e também consegue ficar em paz com o seu passado (representado pelo Goku indo ver o Kuririn, Mestre Kame e Piccolo por uma última vez). Depois disso, Goku, nas costas de Shenlong, pega no sono e some no horizonte. Perceba que o herói em questão sabia o seu destino porque ele já dominou a própria existência. Tal narrativa pode ser vista na Bíblia, em que Jesus sobe aos céus depois de ressuscitar (sim, aquela brincadeira de que Dragon Ball é uma religião é pano para mais discussão do que parece), ou Senhor dos Anéis, em que os heróis vão viajar para as Terras Imortais, o que não passa também de uma metáfora para a morte e transcendência (embora o Tolkien tenha negado isso em carta, mas o que interessa é a forma como a obra pode ser interpretada, nunca o que o autor fala por fora).

Interessante ressaltar que ninguém soube, na série, para onde o Goku foi. Os únicos que tinham uma vaga ideia foram o Piccolo, Mestre Kame e Vegeta. Os três foram provavelmente os únicos cujas respectivas Jornadas do Herói também tinham sido encerradas. O Piccolo já foi explicado. A Jornada do Herói do Mestre Kame se deu lá no fim do Dragon Ball original, quando ele vê que o mundo não precisa mais dele como artista marcial e prefere dar o posto aos mais jovens, preferindo ficar recluso em sua ilha apenas coçando o saco e lendo revista de sacanagem o que, para ele, é também o seu próprio Éden, o paraíso. O Vegeta, por fim, tem como entendimento principal de que ele simplesmente não vai superar o Kakarotto. O fato de aceitar sua existência como o tiozão que é também encerra a sua referente jornada.

A ideia é que cada um ganha o paraíso que merece. O Goku, considerando seu status como Superman asiático (ou ainda um novo Jesus) encerra sua jornada transcendendo. Tudo acontece num nível metafísico cuja interpretação não vem de elementos diretamente do universo, mas de fora dele, tal como acontece também (e eu não acredito que estou dizendo isso) com Evangelion. O culto à figura de Goku como Superman ou Jesus foi responsável pelo personagem em questão perecer do destino que sofreu, tanto que depois rola um epílogo em que o herói está assistindo — apenas observando quieto, como o deus que ele se tornou — a uma nova geração de lutadores.

Dragon Ball GT não existe apenas para fanservice, ao contrário de Super. Ele é completamente arquitetado em volta de todo Dragon Ball e Dragon Ball Z originais a fim de fechar uma história ampla (e produzida sob demanda, sem planejamento a longo prazo por parte do autor) de forma estruturalmente concisa. O indivíduo que critica o GT de maneira gratuita se enquadra no famigerado “não gosta porque não entendeu”. É por isso que eu acho um absurdo gente que me aparece falando bem de Super e mal do GT — e sempre de forma injustificada e sem fundamento algum.

A começar pelo próprio Goku do Super, que está mais unidimensional do que nunca. Mais de uma vez ele fodeu com a porra toda porque decidia segurar a própria força para ficar no nível do oponente, como é o caso do Freeza ressuscitado, que factualmente chegou a destruir o planeta Terra por causa dessa cagada. O Goku é um robozinho que pouco se importa com tudo e só está preocupado em treinar. Quer exemplo mais boçal do que quando ele não entende que o Vegeta quer ficar perto da Bulma porque a Bra está quase nascendo e é por isso que ele não vai treinar naquele momento? O personagem principal de Dragon Ball Super é realmente asqueroso.

O Arco do Zamasu, que é alvo de tanto elogio, simplesmente não faz sentido. A começar pela Mai. Considere que a linha do tempo já no arco do Cell se dividiu em duas (se isso não tivesse acontecido, o Trunks do futuro simplesmente teria desaparecido na derrota dos androides), uma que é o mundo onde o Majin Buu acordou e a outra que é a do próprio Trunks do futuro. Levando em conta que a linha do Trunks do Futuro é completamente diferente a partir do ponto da cisão, não é possível que a Mai tenha a idade que ela tem nesse futuro do Trunks que se tornou o alternativo. Ela, se estivesse viva, seria uma idosa, visto que nunca usou as Esferas do Dragão para rejuvenescer. O pior de tudo é que acusam o GT de não fazer sentido e não se preocupar com linha do tempo.

Isso também vale para o Supremo Senhor Kaiô, que se separou do Kibitô porque sim. Ah, não, ele usou as Esferas do Dragão para isso, não é? Mesmo que o Kaiô Velho considere isso uma afronta à ordem natural do universo. Tudo bem, o Supremo Senhor Kaiô não é o velho Kaiô e não acredita nisso, certo? Então quer dizer que, além de tudo, ele não respeita a autoridade de um Deus Ancestral que, por acaso, é seu antepassado? Puta que pariu, Dragon Ball Super é mesmo genial.

Ainda, para piorar a situação toda, eles envolvem a questão dos brincos Potara e inventam que a fusão não é permanente, mas que ela se desfaz depois de trinta minutos, a não ser que pelo menos um dos envolvidos seja um Deus, aí ela é eterna. Esse tipo de lógica e justificativa só se cria depois de tentativas sucessivas de consertar uma cagada com outra. É uma sucessão de cagadas. Talvez fosse bem mais fácil, em vez de forçar a barra com o Vegetto, utilizar o Gogeta porque, olha só! Já existe uma fusão na série que é temporária. Quem é que iria imaginar, não é?

Sem falar de que o simples fato de botarem o Goku Black como antagonista já é um negócio porco demais. Colocar uma versão sombria como inimiga do próprio protagonista é o cúmulo da preguiça. O pior é que nem é a primeira vez que fazem um negócio desse, vide o caso do Tullece no terceiro filme do Dragon Ball Z. Isso é culpa do mercenarismo da Toei, que clona a aparência dos personagrns para fazer mais boneco sem precisar de um novo molde. Realmente, é um super fanservice. Eu queria entender, de verdade, a predileção dos fãs em torcer para que um vilão tosco desse apareça em um jogo de luta no slot de um Hit ou até mesmo o Magetta.

Eu não vou negar que eu assisto a Dragon Ball Super e admito que o negócio empolga em certos momentos. O melhor momento da série até aqui é o Mestre Kame mostrando que não é à toa que ele segurava o título de maior artista marcial da Terra (lembre-se que o próprio Dr. Wheelo, em sua busca pelo homem mais forte do mundo, vai primeiramente atrás do Mestre Kame, não do Goku).

A questão é que mesmo esse arco do torneio tem seus defeitos. Observa-se que ele é claramente mal escrito quando se nota a discrepância entre as eliminações de cada universo. O sétimo, com o time formado pelos protagonistas, eliminou, enquanto eu escrevia esse texto, trinta oponentes. O segundo colocado, o sexto, eliminou onze. O resto, praticamente nenhum. Ninguém mais está lutando nessa merda? Você concentra um pouco mais de 50% de todas as eliminações em apenas dois universos. A impressão é que não é todos contra todos, mas Universo 6 e 7 contra rapa.

Agora, por incrível que pareça, outro negócio que é puramente fanservice, mas que está sendo conduzido de forma muito bem feita é o Freeza. A questão é que o bicho é carismático demais. Isso vai desde o momento em que ele recusa ser ressuscitado só porque isso deixaria todo mundo puto, passando pela hora em que ele volta para o mundo mortal e começa aquele diálogo com o Goku em que eles começam a se esporrar só de cumprimento, até chegar à traição previsível dele com (e contra) o Frost. Tudo está correndo de uma maneira surpreendentemente natural, roubando a cena para si.

A forma dourada dele é cretina? É, tanto quanto o SSJ Azul, o SSJ Vremeio e agora esse negócio branco que o Goku atingiu, mas não serviu para nada porque ele tomou uma sova do Jiren do mesmo jeito. E ainda reclamam do Super Saiyajin 4, que faz bem mais sentido do que isso. A rigor, o SSJ4 faria até mais sentido como Deus do que essa merda de forma azulada, visto que a fonte de poder dos Saiyajins era justamente a cauda. A divindade de uma raça deveria carregar aspectos marcantes de si, não somente explodir em Ki colorido. Fizeram o dever de casa em Dragon Ball GT, enquanto no Super, obviamente, não — embora tentem fazer parecer que sim ao colocar uma série de retro-referências, como o Piccolo aparecendo na frente do Gohan e morrendo de forma anticlimática ou o Goku lembrando do treinamento com o Mestre Kame na hora em que está plantando alface.

Afinal, foi Dragon Ball GT que estragou os personagens, botando um bigode no Vegeta (o símbolo do tiozão) e transformando o Gohan num fracote. Não foi o Super que elevou ainda mais o Kuririn a nível de piada — coisa que ele não merece —, né? Não foi o Super que transformou o Goku num robô lutador boçal e sem personalidade que não se importa com mais nada, não é mesmo? (Nota-se a ironia).

Sabe, eu entendo gostar de Dragon Ball Super. O que eu não entendo é quando querem fazer da série a última Coca-Cola do deserto. Não entendo é desmerecer GT, que ao menos é bem escrito, para ficar idolatrando esse negócio que não passa de uma fanfic de luxo de uma franquia cuja história havia sido fechada satisfatoriamente. Também não entendo essa de ficar discutindo sobre o que é e o que não é canon, o que o autor acha, o que o autor fez e o que o autor não fez.

Porque, a rigor, canon mesmo é o que está no mangá original e acabou. Ficar brigando que GT não é canon é fechar os olhos para o que Super está fazendo. Obviamente, não me importa o que é canon e o que não é aqui — o que incomoda é a hipocrisia. Eu realmente acredito que daqui uns dez anos vão pegar o Super e vê-lo como uma aberração tanto quanto fazem com o GT hoje. Justificativa há, visto que Dragon Ball Super é genérico, bagunçado e sem personalidade alguma.

O mesmo vale para quem encrenca con o anime original em relação ao desastroso e nojento Dragon Ball Kai, bem como quem enche o saco sobre o fillers. Reclamam tanto a respeito deles, mas eu sinceramente não vejo problema. Primeiro, quero colocar que os fillers são melhores do que os arcos de história do Super. Segundo, é a respeito da alegação de que eles são responsáveis por arrastar demais a história, o que não é verdade, visto que a narrativa se estende justamente nos momentos do próprio mangá.

Por exemplo, o Gohan se transformando em SSJ2 equivale a uma única página do quadrinho, enquanto o anime conseguiu transformar isso em uma gritaria que dura uns cinco minutos. O arco do Super Buu e do Kid Buu, somente, equivalem a uns dois volumes, apenas — o anime, por sua vez, estende isso em, sei lá, uns cinquenta ou sessenta episódios. A fim de comparação, Phantom Blood, a primeira parte de JoJo, tem cinco volumes adaptados em nove episódios. Stardust Crusaders, a terceira, tem dezessete volumes divididos em cinquenta episódios. A culpa não é dos filers, visto que Dragon Ball Kai (que corta os menosprezados fillers) transforma cinco ou seis volumes de arco do Buu (como um todo) em 60 episódios, o que ainda é muita coisa.

Em tempo, eu nem falei do arco do Cell e do arco do Majin Buu, né? Eu gosto mais do segundo. A saga dos Androides é chata porque é uma zona onde o autor fica a metade dela sem ter certeza de quem seria o antagonista principal. O Majin Buu já me agrada porque é pastelão. Dragon Ball é pastelão em sua essência e o arco do Buu é mais próximo da proposta original do mangá do que o do Cell ou até mesmo o do Freeza.  O vilão ser uma bola tosca obesa, mas ainda assim poderosa, é uma forma de trazer esse nonsense da era do Goku criança para os momentos finais de Dragon Ball Z. Aliás, basta lembrar que a motivação do Comandante Red, do Red Ribbon, é reunir as esferas do Dragão não para dominar o mundo, mas para simplesmente ficar mais alto.

Eu gosto de Dragon Ball. Para valer. Mas eu não me deixo levar pela empolgação generalizada cega de nostalgia. Aliás, eu vou ser chato justamente por ser algo que eu gosto e quero ver ser bem tratado. Existe nostalgia? Claro! Eu não vou me esquecer que eu assistia Dragon Ball Z quando era moleque no Cartoon e esperava para ver a explosão dos cinco minutos de Namekusei que custou a chegar, até que eu tive uma festinha de aniversário naquele dia e acreditei que, já que tinha demorado tanto para essa merda acontecer, ia demorar mais um pouco e que não fazia mal perder um só episódio que seja — e foi justamente naquele que a porra do planeta acabou indo para os ares. Também não vou me esquecer de quando asssistia ao Dragon Ball original (que passava de madrugada) escondido dos meus pais, com a televisão do quarto no volume 2 e com um ouvido na TV e outro no corredor atento a qualquer movimentação, além do dedo em posição para desligar o aparelho bem rápido caso dê merda.

Ainda assim, eu quero que o material novo que façam seja bom. Não é como se tais momentos do passado fossem ser estragados, mas é porque eu quero passar por novas experiências tão marcantes quanto. Isso só vai ser alcançado se capricharem na maneira como trabalham com a franquia.

Ah, quem é que estou enganando? Nos últimos dias eu ando passeando por horas pela Dragon Ball Wiki só de brincadeira e assistindo Dragon Ball no Cartoon de tarde para depois correr e comentar com os amiguinhos que também assistem. Reli toda a coleção de mangá em praticamente uma tacada e asseguro que a série foi temática recorrente dos meus últimos desenhos. Eu estou me divertindo, sim.

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