A questão é que 2016 foi uma merda para o cinema em geral, salvo poucos títulos. Em compensação, foram poucas as vezes que saí realmente pistola da sala em 2017. De cabeça, de imediato, só me lembro do filme do Thor: Rasgatanga e um outro aí que eu cito mais para frente ainda nesse mesmo post. Nisso, tive uma ideia de enumerar os cinco filmes que mais gostei desse último ano.
Deixando claro aqui que não há uma ordem específica, só fui jogando assim que ia lembrando. Ou talvez tenha e foi montada pelo meu subconsciente, vai saber.
La La Land
La La Land foi lançado em 2016, mas ele chegou por aqui no começo desse ano, então conta. Afirmo com toda a certeza que foi uma das experiências mais fascinantes que já tive ao ir ao Cinema, ainda considerando que eu particularmente detesto musicais. A graça é que, apesar do início do filme seguir numa pegada intensiva nessa musicalidade coreografada, as sequências em questão acabam tendo uma frequência diminuída de forma considerável ao longo da narrativa (e de forma proposital). O final, particularmente, a forma como foi conduzida aquela cena final do epílogo, é um soco na barriga.
As críticas principais a respeito do filme, que ele é a perpetuação da epítome do cavaleiro branco e “sua busca (e eventual sucesso) para salvar o tradicional gênero de música negra da extinção, parecendo ser o único indivíduo capaz de realizar tal objetivo”, são considerações completamente erradas, visto que o conceito que o personagem do Ryan Gosling tinha sobre Jazz ao longo de praticamente toda narrativa estava equivocado e precisou justamente levar um tapa na cara do colega negro (o John Legend) que realmente chega botando o pau na mesa e falando que o estilo está morrendo por causa de uns bundões que nem ele.
O mesmo vale para as críticas que atestam que La La Land é machista por conta de a personagem da Mia (da Waifu Emma Stone) ser conduzida por todo o relacionamento pelo cara, de que o Gosling é “o autor do relacionamento”. Isso também é uma idiotice, visto que é ele quem acaba se fodendo no final, sem conseguir superar a relação enquanto ela já conseguiu viver toda a vida dela e ele que se foda. A impressão é que quem faz essas críticas, na real, não viu o filme e, se viu, tem problemas sérios de interpretação.
Eu acredito de verdade que merecia bem mais o Oscar do que Moonlight, que é um filme chato e que nada inova no cinema como um todo, se assemelhando muito a uma primeira experiência pretensiosa de um calouro do curso de cinema. La La Land é um filme conciso. Ele pode não ser revolucionário, mas absolutamente tudo o que ele tenta, faz com perfeição. Além, por conta do supracitado encerramento, afirmo que ele é catártico. Eu passo a impressão de porra louca dos filmes dos gibis, mas de vez em quando eu tenho sensibilidade para arriscar alguns temas mais sérios.
T2 Trainspotting
Sabe o que eu mais gostei em T2 Trainspotting? Que ele consegue ser tão bom quanto o primeiro, mas sem repetir e se tornar mais do mesmo. Os protagonistas envelheceram e, com eles, vieram os problemas da idade. Um problema dessas sequências que apresentam os personagens com idade avançada em relação ao anterior é que ou eles não estão evoluídos, ou se tornaram outros. Aqui, há uma espécie de evolução natural.
Eu gosto de falar que Trainspotting é a forma como jovens Punk se adaptam nos anos 90, uma era pós-punk. Aqui são adultos de meia idade que já são pós-punk numa era pós-pós-punk. Acho realmente gratificante quando a produção dos filmes consegue implementar o fato de os atores estarem velhos na própria película, tornando-o parte da história, bem como as próprias mudanças que o mundo em si acabou passando nesse período.
Algo que realmente me agradou aqui é a parte técnica. Gosto de como o estilo do Danny Boyle permanece ao longo de seus filmes, mesmo que eles possam não ter absolutamente nada em comum na temática (Steve Jobs, com o Fassbender, é do mesmo diretor, a fim de comparação). Um exemplo é na questão de que o Franco (o personagem do bigodinho) é broxa e lamenta esse problema em questão. Em uma cena específica, ele encontra o Renton (Ewan McGregor) e quer tirar satisfação por causa da putaria que o Obi-Wan aprontou no fim do primeiro filme. Uma perseguição ao som de Relax acontece e, ao fim, com o Franco sozinho no meio da rua, percebe que está de bauduco. Gosto de verdade desse tipo de sutileza.
Eu só fiquei meio puto porque, como ele não estava em circuito tão aberto assim a ponto de chegar num Cinemark minimamente confortável, tive que recorrer à merda daquele Caixa Belas Artes da Augusta. Digamos que ele ia ser fechado e era por uma boa razão. Tela minúscula, longe das poltronas e cheiro de umidade na sala. A questão é que quem queria que aquela bosta continuasse na ativa tranquilamente não faz uso daquilo lá. Ninguém em sã consciência vai achar bom.
Blade Runner 2049
Eu tinha um pouco de medo durante a produção, mas por conta de tudo o que foram lançando aos poucos, como trailer, poster e arte conceitual, acabei ficando mais tranquilo e interessado no filme, tanto que fui ver na estreia. Fiquei realmente feliz com o resultado, quase três horas de filme e estava tão envolvido que ainda aguentava uma quarta.
Claro que desde o começo já era uma ideia de jerico fazer uma sequência para o Blade Runner, visto que o final é aquele e acabou, mas fico feliz de verdade que não cagaram aqui. Foi quando eu percebi que nessa onda de revival de franquias antigas em sua maneira de fazer remakes e reboots, haverão duas ramificações distintas. A primeira é representada por Blade Runner 2049, Mad Max: Fury Road e até mesmo o T2, que realmente trabalharam na sequência de uma forma que ela fale por si só, de uma maneira mais orgânica.
A segunda é Jurassic World, Caça-Fantasmas, Godzilla, Robocop, Exterminador do Futuro e, sim, Star Wars, que às vezes até rola uns filmes divertidos, mas cuja ideia, na verdade, é só fazer para tirar uns trocados e acabou. Digo, eu acho realmente difícil que alguém tenha acreditado que uma sequência de Blade Runner fosse se tornar um sucesso de bilheteria, considerando que o primeiro também foi um fracasso e até hoje continua como um produto de nicho. Ah, é a Warner a responsável por isso? Então talvez essa ideia de bosta se torne mais crível.
Enfim, o filme é bacanudo mesmo. A produção toda mandou realmente muito bem na história, no ritmo e na intensidade do negócio. Só fiquei meio encucado porque, no fim das contas, a versão do diretor do Blade Runner original que se foda e, o que importava, na verdade, era a de cinema mesmo, pois foi a que usaram de base para o 2049. Eu só queria entender de verdade o motivo desse filme aqui carregar 87% nos Tomates Podres enquanto Thor: Ragatanga, carrega 92%. Digo, a criticaiada realmente gostou menos de um filme com alguma qualidade do que a orgia que foi Thor?
Atômica (Atomic Blonde)
Ele não é um puta filme inovador ou sei lá o quê, mas ele é extremamente bem-feito. De verdade, se todos os filmes fossem, no mínimo, um Atômica, eu com certeza seria uma pessoa bem mais humorada para falar de cinema. Situado no fim da Guerra Fria, acho genial como conseguiram pegar toda a atmosfera marginal da zona que era Berlim naquele período. Charlize Theron e James McAvoy são só elogios no meu conceito nos últimos anos que venho acompanhando uns trabalhos dos dois.
Chega a ser surpreendente que o diretor aqui é um ex-dublê de filmes de ação que simplesmente acabou se arriscando nessa brincadeira de dirigir. Ele consegue usar toda essa estética dos anos 80 sem se apegar à nostalgia (It, Stranger Things) ou ao esculacho (Thor: Ragatanga), trabalhando a ideia apenas para conseguir um efeito que servisse para atribuir personalidade ao filme, sem se calcar em cima disso.
Além disso, a utilização correta da trilha sonora é um exemplo de como essa construção é feita. O filme não pega umas músicas aleatórias da época para dizer que estão lá, feito Guardiões da Galáxia Vol. 2, mas elas casam com a imagem da tela sem forçar a barra, tanto que metade das canções em questão são praticamente covers, em vez das versões originais. Por exemplo, 99 Luftballons está presente no filme duas vezes em versões diferentes e em nenhum momento isso pareceu preguiçoso — por uma questão de contexto.
O filme é tão fascinante que eu, na empolgação, comprei a visual novel na qual ele é baseado e acabei me decepcionando porque o negócio é simplesmente chato e sem personalidade. Sabe aquelas raras ocasiões em que a adaptação é melhor do que o original? Então, é isso aqui.
Bingo: O Rei das Manhãs
Acho justo dizer que, ao menos tecnicamente, é o melhor filme brasileiro já feito. Eu sempre quis comentar aqui um pouco sobre cinema brasileiro e a oportunidade finalmente surgiu. O meu pensamento a respeito é que o nosso principal problema é que não temos uma indústria cinematográfica graúda o suficiente para conseguirmos nos diversificar nos temas que vão além do drama das comunidades como Cidade de Deus ou dos filmes de comédia produzidos pela Grobo estrelados pelo Leandro Hassun, o Adam Sandler brasileiro.
Bingo é foda porque ele faz o que Hollywood está cansado de fazer, de se apropriar vagamente de uma história real e adaptá-la de forma poética para a tela grande sem se apegar a detalhes concretos da própria realidade. Ele não tenta repetir o Arlindo Barreto ou o Bozo propriamente dito, mas cria uma nova persona baseada neles, não meramente replicada.
Falando no Arlindo Barreto, a única parte do filme que fica realmente piegas foi uma montagem mostrando a vida dele em imagens de superação com a família antes dos créditos do filme, mas que no fim acabou parecendo mais aqueles filmes de casamento ou aniversário, com uma música meio brega ao fundo com o intuito de parecer algo dramático.
Bingo, sob tal ponto de vista, é um frescor. O diretor chegou a trabalhar como responsável pela montagem do Robocop de 2014 e parece que o estágio que ele fez em Hollywood acabou fazendo muito bem. Acho sinceramente brilhante a forma como o filme tem duas metades completamente diferentes, sendo a primeira engraçada, quase uma comédia e a segunda completamente densa, acompanhando a espiral de declínio do Bingo em questão. A performance do Wladimir Brichta, aliás, é provavelmente uma das melhores atuações já feitas por um ator brasileiro no cinema. Vai ser uma sacanagem tremenda se não aparecer ao menos entre os finalistas do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Menções honrosas
Menção Massavéio: Rei Arthur: A Lenda da Espada: É um filme cheio de buracos e de uma edição esquisita — basicamente porque o Guy Ritchie é horrível nesse quesito — mas eu gostei na forma como ele é um videogame toscão, inclusive no CGI ruim. Ainda assim, dá uma empolgada bacana. Ah, a trilha sonora tem Led Zeppelin. Achei pertinente.
Menção “eu não sei o motivo de elogiarem tanto essa coisa”: It — A Coisa: Ó, de verdade, achei isso aqui uma bosta. É um filme que claramente elogiam por conta desse sentimento babaca de nostalgia aos anos 80 que veio com tudo com a merdinha do Stranger Things. As pessoas precisam aprender que o Stephen King é um escritor de uma nota só, com uma gama considerável de trabalhos que dizem a mesma coisa: a passagem do jovem para a vida adulta. O que você acha que aquela cena da formatura de Carrie: A Estranha quer dizer? A mesma coisa que a cena em que o banheiro da Bev fica cheio de sangue que explodiu da pia: uma metáfora esporrante para a questão da menstruação
E o pior é que a existência desse filme mostra o quão seletivas são as porras das críticas dos justiceiros sociais. Você vê o personagem do Mike, o menino negro que é completamente inútil durante o filme todo, sem função alguma, e não vê ninguém reclamando de racismo. Você vê a Bev, cuja função é literalmente ser sequestrada e não fazer nada além de atiçar a imaginação libidinosa dos moleques, e não vê ninguém reclamando de machismo. Você vê o Ben, que é o gordinho que está lá somente para alívio cômico e fazer merda, e não vê ninguém reclamando de gordofobia. Você vê a personagem da Bev, completamente inconsciente, sendo virtualmente estuprada ao receber um beijo de um dos moleques sem o consentimento e não vê ninguém problematizando.
Agora, La La Land que é errado, né?