Análise: Promare

Só para constar, eu contei o filme praticamente inteiro aí. Se for comentar, LEIA o texto primeiro antes de falar qualquer asneira que o texto já tenha respondido por si só.

Quem está bem habituado com Todo Mundo Odeia o Chris vai se lembrar de um episódio em que o Julius compra quilos e quilos de linguiça que estava em promoção, o que força Rochelle a produzir uma série considerável de pratos aleatórios como uma forma de desovar tamanha quantidade do embutido. A despeito de serem pratos diferentes, o ingrediente era o mesmo e a família logo ficou de saco cheio de tanta carne de porco. Só no final, no último dia, que o narrador comenta que a mãe dele ia fazer macarrão e que “foi a única vez, naquela semana, que ela fez comida que combinava com linguiça”. Dito isso, Promare é o Macarrão com Linguiça do estúdio Trigger. É, tranquilamente a obra suprema do estúdio em questão — e isso não é necessariamente um elogio.

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Análise: Guilty Crown

Só para constar, eu contei o final da série inteiro aí. Ah, comentem AQUI, não no link do Facebook. Se for comentar, LEIA o texto primeiro antes de falar qualquer asneira que o texto já tenha respondido por si só. As palavras sublinhadas são links que geralmente ilustram o que foi indicado, basta clicar.

Guilty Crown é uma série montanha-russa. Tem tantos sobes e desces de enredo, de desenvolvimento de personagem, de tudo, se for resumir, que teremos que colocar tudo no papel e pesar os prós e os contras. Para começar, eu não consigo ver Guilty Crown ganhar algum mérito como uma série original. Simplesmente não consigo. É tão Rip-off de outras séries que fica difícil ignorar as diversas influências.

GC conta basicamente o enredo de uma sociedade assolada por uma epidemia – acontecida anos antes do início da série – de um vírus que transformava as pessoas em uma espécie de cristal. Tal evento ficou conhecido como “Lost Christmas”, ou “Natal Perdido”, justamente por ter acontecido na época indicada. A epidemia foi então controlada por uma empresa chamada GHQ. A partir desse evento, a mesma empresa acabou por se tornar, de certo modo, a administradora de todo o Japão.

O personagem principal é um garoto colegial (japorongos adoram colegiais, inacreditável, acho que é uma idade mais fácil de trabalhar) chamado Ouma Shu que, sem querer, acaba recebendo uma droga que lhe permite retirar os chamados Voids dos outros. O Void de cada um é único e representa sua personalidade. Geralmente se apresentam na forma de armas, embora outros possuam poderes variados, como a cura e a defesa perfeita. Com esse poder, ele é convidado por um indivíduo chamado Gai a ingressar numa organização denominada de Funerária (ou Undertakers, como preferirem). Na mesma organização, atuava uma misteriosa garota – também famosa por ser cantora – chamada Inori Yuzuhira, protegida de Gai.

Até então, diversos episódios se seguem, apresentando algumas operações de Shu na funerária, ele se aproximando de Inori, ficando amiguinho do Gai e participando de dramas colegiais (como toda boa série colegial porcaria), com direito até a um episódio de praia. A série acaba por tomar outro rumo exatamente no episódio 12, em que a funerária tenta evitar uma ação da GHQ que traria de volta a contaminação novamente, repetindo os eventos do Lost Christmas. Acabo lembrando bem disso porque o episódio foi ao ar exatamente na semana do Natal.

No episódio doze acontece algo que transforma toda a trama: Gai morre, num sacrifício heroico. Não vou reclamar da morte do personagem porque isso é coisa de fanboy/fangirl babaca. Vou reclamar das consequências dessa morte. Graças a isso, Ouma Shu pensa que é o fodão, porque acabou como líder da Funerária. E foi aí que a série começou a engrenar na descida.

Shu não é mais o personagem tímido que nos foi apresentado. Não há motivo para ele se tornar desse jeito, simplesmente. Isso não foi o que chamam de amadurecimento. Foi simplesmente uma troca de atitudes do personagem principal. Ele precisava se tornar o herói? Tudo bem, que não mudassem a característica principal do personagem até então. E como mostrarei mais a frente, sim, eu provarei – com um exemplo – que é possível realizar esse tipo de façanha.

A operação foi um sucesso parcial. Metade da cidade foi para o saco. Interditaram essa metade e todos passaram a ficar loucos. Shu, o novo líder, virou o Hitler da turminha. Maquiavélico que só, depois de perder sua namoradinha por culpa da própria incapacidade, passou a classificar todo mundo. Quem tinha um Void útil, era útil. Quem tinha Void inútil, era inútil e não faria a mínima diferença se morressem. Shu então era o paquitão, até que, olha só! Gai voltou. Do lado da GHQ. Não sei se choro porque ele voltou de forma totalmente nonsense ou se rio, porque a primeira coisa que ele fez quando voltou foi arrancar o braço do chatonildo do Shu.

Shu, ao perder o braço, voltou a ser amiguinho de todos, pedindo desculpas, coisa e tal. Após diversos acontecimentos, Shu conseguiu materializar seu Void, convenientemente em forma de braço para ocupar o lugar de seu cotoco. Seu Void tinha o poder de armazenar todas as características genômicas dos outros – isso incluía tanto os Voids quando a doença do cristal, as quais acabaram por se tornar relacionadas.

Mais ou menos na altura do episódio 19, a série toda é explicada. Gai foi criado como um experimento do GHQ e que fugiu de lá, Inori é na verdade a casca vazia de Mana, aquela que era a irmã do Shu e a culpada de tudo isso ter acontecido por portar o genoma que causava o cristal-câncer. Gai pretendia usar o corpo da Inori para trazer Mana de volta e aquela baboseira toda a com a qual estamos acostumados. Faltam três episódios para o fim da série, portanto, hora do quebra-pau.

Gai e Shu têm sua lutinha final causal, em meio a uma destruição toda. Eu geralmente não torço pelo vilão, mas aquele Shu era muito pentelho. Dei sorte e o Shu apanhou do Gai durante a luta inteira. Acontece agora uma coisa inexplicavelmente inexplicável e a Inori – que já não existia mais, pois Mana havia tomado seu corpo, de repente, aparece para dar um power up para o Shu e o Gai acaba perdendo. Na hora do golpe final, somos transportados para uma daquelas conversas dentro do subconsciente – igual a que o Dumbledore teve com o Harry Potter, no último livro/filme – em que, acreditem só: Gai era um troll e na verdade, ele só estava atuando, esperando que Shu ativasse todo seu poderzinho e o matasse, para que assim levasse Mana junto, salvasse todo o mundo e coisa e tal. Isso é uma coisa que eu esperava do Kubo, afinal, “foi tudo parte do plano”, como diria Aizen. Comparando com a montanha-russa de novo, foi praticamente um looping, porque você sobe e desse bem rápido, sem entender porcaria nenhuma do que aconteceu.

Por fim, Shu utiliza seu braço mágico que absorve tudo para absorver os vírus-câncer-cristalizados de todos, bem como seus Void’s. O prédio explode e “todos chora”, acreditando que nosso chatíssimo protagonista estava morto. Mostram-se alguns anos depois, quase todos os amiguinhos se reúnem para dar uma festa de aniversário? Adivinhem só quem aparece! Ouma “Chato” Shu. É, ele está vivo e está cego, a única coisa que vê em sua frente é o espírito da Inori. Fim da história. Esse epílogo foi até que interessante, se quer saber.

O início foi bom, o desenvolvimento de merda e o final mais ou menos. Parece que a fama subiu à cabeça de Guilty Crown, com como a vontade de ser uma sériezinha intelectual. GC é uma mistureba de várias séries consideradas cult. Temos desde Evangelion – o finalzinho, aquela parte que o protagonista acaba tendo que dar um jeito no próprio subconsciente -, passando por No. 6 e toda sua história de vírus (mas sem as referências homoeróticas), Death Note, em que o personagem queridinho da fanbase morre bem no meio da série até chegarmos em Speed Grapher, onde depois de tudo, o protagonista cego olha para o horizonte sem ver porra nenhuma. Alguns amigos me disseram que tem umas pitadas de Code Geass também.

Nem os videogames escaparam. Mana, depois de ressuscitada, cantava e dançava em pleno ar para transmitir por meio de ondas a porcaria do AIDS cristalizado. The Legend of Zelda: Skyward Sword tem uma cena igualzinha, interpretada por Fi. Aquela história de lacrar meia cidade para depois exterminá-la lembrou-me imediatamente de Batman: Arkham City.

Agora, talvez a pior influência tenha sido 「C」: The Money of Soul and Possibility of Control. Não que 「C」 tenha sido ruim, é fantástico. O que eu não engulo é a maneira de como Guilty Crown fez copy/paste dos conceitos gerais dessa primeira. Ouma Shu é uma cópia mal-feita do Kimimaro Yoga. Não porque são parecidos, personagens assim de cabelo castanho curto são comuns em animes (o protagonista de Another, por exemplo). Acontece é que ambos são garotos tímidos que entram nessa sem ao menos querer. Ambos acabam se envolvendo com algum chefão maneiro, no caso de 「C」, Mikuni; no caso de GC, Gai. Os dois chefões são trolls e acabam tentando acabar com a porcaria do mundo em que vivem e sobra para o protagonista enfrentá-los. Até relação incestuosa os dois têm: Enquanto Kimimaro se acabou se relacionando, mesmo que de forma tímida, com Msyu, a personificação de seu futuro que tomou forma de sua futura filha; Shu tentou dar uns pegas naquela que seria sua irmã, Inori.

Ainda existe uma diferença entre Shu e Kimimaro, contudo. Enquanto Kimimaro era tímido e não perdeu essa característica que o marcava, Shu virou um bundão metido a ser líder. 「C」 provou que é possível sim um herói continuar com essas características. Guilty Crown falha miseravelmente. Shu acaba virando um cara arrogante, mas ao espectador, não impõe confiança como herói. Parece até o emo Shinji Ikari, de Evangelion, mas esse era proposital, era a intenção que ele fosse assim, ao contrário do restolho que se tornou Ouma Shu.

Para Evangelion ainda, além do restolho Shinji Ikari 2.0 de protagonista, temos toda uma concepção bíblica aí de novo, como a ideia de Eva e Adão, que gira em torno de Inori, Gai e Shu. A ideia de impedir um novo desastre que já aconteceu tempos atrás (os impactos em Evangelion, Lost Christmas em Guilty Crown) também é válida.

E o que vou dizer então do enredo? O problema não foi o final. Problema foram as pontas que deixaram abertas e não fecharam. Alguns personagens secundários simplesmente sumiram do mapa. Um exemplo é Daryl, que atuava pela GHQ e, apesar de ser um tanto arrogante e metido, percebia-se que era uma boa pessoa, principalmente quando foi insinuado que ele era interessado na Tsugumi. A última aparição dele foi fugindo pelo elevador com outro cara falando para que ele aproveite a chance de vida que lhe foi concedida, sendo um homem bom. Na cena de vários anos depois, nem sinal da existência dele. Outra coisa: por que o Void da Inori era uma espada, afinal? Foi uma questão jogada no início da série. O espectador comum acaba não descobrindo apenas acompanhando o enredo, mas como estou já escrevendo essa análise, é cabível explicar.

Para a simbologia ocidental (aquela não era uma Katana, portanto não se aplica o sentido oriental, mesmo sendo um anime) a espada é um símbolo de destruição do que é material. É também o símbolo da realeza e da bravura para quem a maneja. Quem empunha a verdadeira espada é o Rei, representado por Ouma Shu. Agora é a deixa para explicar o título também. Guilty Crown é “Coroa Culpada” ou “Coroa da Culpa”. Basicamente, Shu é representado pelo rei e todas as suas ações pseudo-heroicas dele são movidas pela culpa: Morte do Gai, morte da namoradinha dele e coisa e tal.

Apesar de tudo, Guilty Crown tem lá seus momentos de subida e que também são divertidos. Os primeiros episódios são muito empolgantes, antes de a série virar essa putaria toda. Os dois últimos também. A série poderia ter terminado muito bem se não fosse o momento catártico do final, por parte do protagonista. Só dele também, nenhum espectador é idiota para cair em toda essa ladainha forçada. A sequência final, apesar de todas as falhas já citadas, é bastante bonitinha.

A parte técnica também é muito boa. A animação é fluida, bonita e limpa, com quadros feitos em bons ângulos. A trilha sonora é belíssima, bem como as aberturas e os encerramentos, todos muito bem feitos. Apesar de ser um enredo porcaria, ele é bem estruturado, com os pontos de virada bem posicionados. Acho que foi por isso que eu não larguei Guilty Crown no meio.

Contudo, de um modo geral, a verdade é que Guilty Crown é um anime megalomaníaco com síndrome de grandeza. De fato, o começo foi empolgante e dava brecha para muita coisa boa. Acontece é que ficou preso a várias outras séries consideradas Cult só para ganhar o status de uma. Dica: uma série Cult não tem o fanservice que Guilty Crown teve. Série cult é original, não é rip-off. Guilty Crown é uma série falha. Arrependo-me amargamente de ter escolhido GC como melhor enredo do ano passado – isso foi na época que a série estava no começo e estava boa. GC é apenas sombra do que poderia ter sido.


Informações

  • Produção Original
  • Episódios: 22
  • Ano: 2011-2012
  • Direção: Tetsurō Araki
  • Trilha Sonora: Hiroyuki Sawano
  • Estúdio: Production I.G

Análise: SKET Dance

Devem ter alguns spoilers aí. Não digam que não avisei. Ah, comentem AQUI, não no link do Facebook.

Sabe aquele humor pastelão, que tem umas piadas tão ruins, mas ruins mesmo – e toscas – que você acaba achando graça da ruindade? Então, SKET Dance é mais ou menos assim. Publicado na Jump e virou um anime há um pouco menos de um ano, pela Tatsunoko.

Olha, falando sério, não era para eu ter assistido, pra início de conversa. Aí eu comentei no Pizza Time (R.I.P.) que iria assistir 「C」 só porque era da Tatsunoko. Surgiu então o comentário do Mioqs Mizuiro sugerindo que eu assistisse SKET Dance, já que é da Tatsunoko também. Não sei o que me levou de fato a baixá-lo e assisti-lo, mas foi isso que fiz. Bom, eu ri bastante, mesmo não devendo.

SKET Dance é um slice-of-life meio pastelão que conta a estória de três amigos que montam um clube escolar cujo intuito é resolver os diversos problemas dos outros estudantes, desde conquistar a garota amada até achar um chaveiro perdido. Nesse ponto, não é motivo para reclamar. Não possui um enredo metido a complexo e aposta no carisma dos personagens, e são muitos, se quer saber.

Basicamente, SKET Dance é só isso. Acontece é que, como num formato de sitcom, por mais que seja repetitivo por não ter um enredo sequencial que se estende por episódios a fio, este anime aposta nas mais variadas situações que os personagens – de caráter forte – se encontram e como eles reagem à essas situações de maneiras diferentes. Portanto, mais importante do que explicar o enredo, é relevante introduzir os personagens, ou pelo menos, nesse caso, os principais.

O personagem principal da série é Yusuke Fujisaki, mais conhecido pelo seu apelido: Bossun. É o líder da equipe, sempre preocupado em ajudar o próximo – um dos motivos que desencadeou na formação do SKET-dan (sigla para Support, Kindness, Encouragement, and Troubleshoot – Em português, “Ajuda, Bondade, Encorajamento e Soluções de Problemas”, ou ainda SKET é ocidentalização de Suketto, em português, ajudante). Bossun acaba por ser um personagem muito emotivo e focado em seus objetivos, além de possuir habilidades acima da média para desenho e nos momentos que requerem algum tipo de concentração ou algum tiro de estilingue.

Dividindo o protagonismo com Bossun, encontramos Himeko, cujo nome de nascença é Hime Onizuka, mas é também conhecida por sua alcunha: Onihime – em português, Princesa Demônio. O título se aplica a ela por causa de seu jeito moleque: é a indivídua mais forte da turma e é para ela que sobram as brigas. Também muitas vezes age como um garoto e é a integrante do SKET-Dan com maior afinidade para os esportes. Apesar de tudo isso, também é provida de características que surpreendem por serem femininas, como a habilidade para a culinária, bem como afinidade com crianças. Diversas vezes é insinuado que ela teria uma queda por Bossun (e vice-versa), mas nada aconteceu, de fato.

O membro mais incrível do SKET-Dan é Switch. Switch é um entusiasta por animes e gênio da informática. Não existe informação que o grupo necessite que não esteja ao alcance dele. Kazuyoshi Usui nunca fala. Sempre com seu Notebook, ele emula uma voz computadorizada que reproduz o que é digitado. Repare que usei o termo “entusiasta”. Isso porque apesar de ser praticamente um Otaku, ele odeia as pessoas que neste grupo se encaixa. Ele não suporta os olhares dos fanboys cegos, odeia o Moe e encara tudo com olhares críticos (exemplificado por essa screen). Creio que Switch, de certa forma, se parece com este que vos escreve.

Outros personagens não protagonistas, mas que possuem relevância são Shinzo Takemitsu, um estudante meio xarope que pensa que é um samurai – e se vestindo igual a um em pleno século XXI – movido à bala de menta, Yuuki Reiko, uma estudante com vaga verossimilhança à Samara (d’O Chamado) e fanática pelo ocultismo e sobrenatural. Ela serve como contraponto ao Switch, que tenta explicar tudo através da lógica e ciência comprovada. Não podemos esquecer-nos da Roman Saotome, uma garota que vê o Bossun como príncipe encantado e é aspirante à mangaká, mesmo desenhando horrivelmente mal. Tem também a Yabasawa, uma líder de torcida cuja boca tem o formato de um três. Aliás, é engraçada porque ela é gorda.

É comum que todos os heróis tenham seus anti-heróis, não sendo necessariamente os vilões. É aí que entra o grupo do conselho estudantil que visam manter a ordem na escola. São eles os responsáveis em promover os eventos e fiscalizar se tudo ocorre em seu devido lugar. Sempre tentam fechar o SKET-Dan por alegarem que não é um clube sério. O Conselho estudantil, contudo, protagoniza vários episódios, onde sua seriedade diante dos fatos acaba os tornando cômicos.

Entre os integrantes do conselho estão Soujirou Agata, o líder preguiçoso com um QI altíssimo (deve ser normal para os japoneses de QI alto serem preguiçosos), mas focado e responsável para com o seu trabalho. É várias vezes repreendido Sasuke Tsubaki, o vice-presidente. Certinho e estressado, é o principal rival de Bossun. Michiruy Shinba é a “cara” do Conselho estudantil. Narcisista, todas as mulheres caem aos seus pés, além de ser um exímio cozinheiro. Existem também as meninas. Mimori Uryuu é a filha de uma família rica e faz questão de resolver os problemas com seu dinheiro. Apelida de de Daisy(-chan), tem também Kikuno Asahina, uma garota perfeccionista e fria que adora falar em siglas.

O corpo docente também integra boa parte da gama dos personagens, como Kunio Yamanobe, o afeminado professor de geografia que sempre pede ajuda do SKET-Dan para divulgar seus jogos estranhos, muitos dos quais deles vieram da China (literalmente). Remi é uma ex-apresentadora de programa infantil que decide virar professora (tratando seus alunos como crianças de cinco anos) e Tetsuji Chuma, um cientista louco e ligeiramente depressivo. Não nos esqueceremos do excêntrico diretor e do professor de carpintaria maníaco por cortar madeira com sua serra elétrica, J-Son.

SKET Dance é interessante por ser simples. O humor é predominante, por isso, muitos dos rumos que levam o enredo do episódio acabam por ser surpreendentes, quase um Troll, por não ser de maneira alguma como nós esperávamos. Um bom exemplo é o final de um arco em que ocorre uma gincana na qual os participantes do SKET-Dan participam contra o conselho estudantil. Aliás, apesar da maioria dos episódios serem fechados, os arcos que se formam algumas vezes, se estendendo por vários episódios, são incríveis, como o concurso de bandas promovido pelo próprio diretor.

Válido ressaltar as diversas referências à cultura popular. Encontrei uma porrada delas, desde Jojo’s Bizarre Adventure e Dragon Ball à Michael Jackson e Star Trek, contando inclusive com um Crossover com Gintama, outra série da Jump também conhecida por ter humor escrachado. Contudo, nem tudo é risada. Alguns dos episódios, estes bem sérios, exploram o passado dos protagonistas. Por sinal, foram episódios muito bem encaixados ao longo da série, nada de tacar tudo de uma vez ao público.

É agora, inclusive, que entrarei com a rotineira análise do psicológico. As três personagens principais tiveram um passado conturbado. Curiosamente, alguns de meus amigos que também tiveram seus passados conturbados de alguma forma (não entrarei em detalhes por questões óbvias) tendem a querer ajudar as pessoas. Não sei se é mera coincidência, mas vi alguns deles nos personagens principais (Aí entraria toda uma hipótese minha que os piores e mais folgados são aqueles nascidos em berço de ouro e coisa e tal, mas fica para outro dia).

Quanto à parte técnica, a Tatsunoko nunca decepciona. Animação lindíssima e fluida, com direito inclusive a expressões exageradas que não parecem terem sido feitas com a bunda (J.C Staff, isso é indireta a você). A trilha sonora também é cativante e empolgante. É o que eu já falei: A trilha precisa ser notada e parecer intrínseca ao episódio em vez de um som colocado lá de qualquer jeito. As quatro aberturas até agora são bastante caprichadas. Embora não possa dizer que os encerramentos não sejam tão bons quanto, também não deixam a desejar.

Por fim, SKET Dance é um anime com um enredo consistente e interessante sem ao menos ter enredo. Isso ocorre graças ao fato dos personagens que sustentam a trama serem bem construídos. Acompanho desde o primeiro episódio e jamais reclamei de perda de qualidade ou ao menos acusei algum episódio de ser ruim. Obrigado ao Mizuiro, sem seu conselho (sempre ele), SKET Dance teria me passado em branco.


Informações

  • Autoria Original:Kenta Shinohara
  • Episódios:48 (Ainda em Exibição)
  • Ano:2010
  • Direção:Keiichiro Kawaguchi
  • Trilha Sonora:Shuhei Naruse
  • Estúdio: Tatsunoko

Análise: Laranja Mecânica

Com a consolidação da globalização, o cinema passou a ter duas ramificações. Uma delas é a comercial, feita para aglomerar o maior número de fãs possíveis de formas relativamente fáceis. Os filmes da série Harry Potter são assim. A outra é a idealização do cinema como forma de arte, na qual Laranja Mecânica (“A Clockwork Orange”, no original) se encaixa.

E dou graças à Deus pelo fato de Laranja Mecânica não ser algo comercial, senão os fãs iriam reclamar por não seguir à risca o livro de origem. Isto é, olha só como são os fãs dos filmes de Harry Potter, são uns caras que muito provavelmente, em casa, fazem um buraco no pôster para realizar um “entra-sai” 1 com ele.

Bom, não é esse o foco dessa análise. Laranja mecânica é um “Director’s Cut” da obra em questão, do mesmo modo que se encaixam as versões no cinema de Speed Racer, de Dragon Ball (Evolution) e várias outras obras. Não é para seguir uma obra à risca, é para mostrar a visão do idealizador do filme em questão.

A ambientação é dada num futuro distópico próximo, onde a até então União Soviética teria uma influência tão grande quanto à dos EUA no processo de globalização. Isso significaria palavras russas no cotidiano, igual às inglesas existem nos dias de hoje. Mais ainda, palavras russas e inglesas iriam sincretizar-se, gerando um neologismo único – no livro, identificada como Nadsat.

Nosso protagonista é Alex Delarge, um carismático anti-herói que mora num complexo habitacional, mais uma clara referência ao socialismo. Ele e seus Droogs (nadsat para “amigo”, vindo do russo, mas com grafia inglesa) simplesmente vivem para “tocar o terror” pela região, seja estuprando ou espancando qualquer um que encontram pela frente. Em suma, praticando a boa e velha ultraviolência, como preferem chamar. Também gostam de leite e são adeptos do dandismo, de uma forma ou de outra.

Alex intitula-se o líder e fica extremamente incomodado quando seus companheiros começam a tentar expor a próprias ideias. Para erradicar esse incômodo, Alex acaba dando uma lição deles – no sentido violento da palavra – e eles se vingam. Ao realizar um assassinato (que não é explícito se foi ou não intencional), Alex é deixado no local do crime pelos seus companheiros – após levar, dos mesmos, uma garrafada na cabeça – e então é preso.

É condenado a quatorze anos de encarceramento, mas só cumpre dois. Na cadeia exerce um comportamento até que exemplar, apesar dos flertes dos outros detentos e dos abusos dos guardas. Ele consegue sair quando, manipulando o Ministro de Interior, ingressa num tratamento experimental para recondicionamento de prisioneiros.

Agora é o melhor momento para definir nosso personagem. Alex é um desajustado. Um alguém anti-instituicional e até certo ponto, anárquico e inconstitucional. Acontece que, ao mesmo tempo, ele é um indivíduo extremamente culto. Amante da boa música, espanca suas vítimas enquanto entoa Singin’ in the Rain e possui como composição favorita a Nona Sinfonia de Beethoven. Além disso, é conhecedor da bíblia (mais gostava da crucificação, quando ele mesmo se enxergava como o centurião que chibatava Cristo) e admirador da moda.

Retomando deste parágrafo anacoluto ao texto, Alex é submetido a um tratamento baseado no trauma. Combinando os efeitos de uma droga com as imagens violentas que são fixadas em seu cérebro, o tratamento Ludovico o incita a passar por enjoos e ânsias perante qualquer pensamento hostil ou indócil. Um efeito colateral – e infeliz, diga-se de passagem – é que ele torna-se avesso à sua tão amada Nona Sinfonia, a qual foi usada como música de fundo em uma das películas utilizadas na terapia. Apesar de tudo, ele acabou conseguindo voltar para casa.

Em seu retorno, encontra tudo de cabeça para baixo.  Seus pais alugaram seu quarto a um completo estranho que tomou seu lugar como filho e desfizeram-se de seus pertences, um mendigo que tinha sido por ele espancado o reconheceu e quis dar o troco e os dois antigos droogs que quiseram expor seus pensamentos no começo do filme tinham se tornado policiais. Após muito apanhar deles, Alex vaga até a casa de um escritor que ele havia espancado anteriormente. O escritor não o reconhece de primeiro relance porque Alex e sua gangue estavam de máscara no momento de seu massacre.

Alex então é socorrido e ganha a oportunidade de tomar um banho. O escritor reconhecera-o através dos jornais, como um pobre prisioneiro que havia sido escolhido como cobaia de algum experimento maléfico do governo. Ele só veio a ligar os fatos quando Alex começa a cantar Singin’In the Rain na banheira e mais uma vez, nosso protagonista é alvo de mais uma vingança. Após ter conhecimento da involuntária aversão da Nona Sinfonia por parte do nosso narrador – sim, o filme é narrado pelo próprio Alex – o escritor o coloca num quarto onde a música clássica é tocada. Alex então se joga da janela numa tentativa de suicídio.

Tentativa ao menos, porque o anti-herói sobrevive e percebemos durante o teste psicológico que ele havia voltado ao normal. Podia pensar de novo em sua tão amada ultraviolência. Podia falar palavrões e ter desejos sexuais novamente. É quando aparece o Ministro do Interior novamente pedindo o apoio político de Alex. Afinal, o escritor tinha matado dois coelhos com apenas uma cajadada: Provar que aquele tratamento era desumano por ter levado Alex ao suicídio e ter causado sequelas gravíssimas ao mesmo, como forma de vingança. O governo encontrava-se rechaçado pela opinião popular e precisava causar boa impressão agora.

Em troca do apoio, o governo oferecia um bom emprego com salário idem. Agora o Estado, aquele que sempre o condenava, estava agindo sob seus interesses. O filme se encerra com a impactante cena ideológica de Alex fazendo sexo com uma mulher nas nuvens e aristocratas assistindo-o, ao som da Nona Sinfonia de Beethoven.

Esse final nos mostra um pacto realizado entre o Estado e Alex, no qual a instituição se mostra submissa. Para nós falantes da língua portuguesa, a cena mostra-se paradoxal. Nós possuímos a expressão “Comendo na palma de minha mão”, mas Alex de forma contraditória a ela, simplesmente abre a boca ao Ministro do Interior, que corta a comida em pedaços e os coloca na boca em sua boca, já que não podia se mexer graças às imobilizações em seu corpo todo quebrado.  Não são eles que comem na palma da mão de Alex. Ele simplesmente os obriga a alimentá-lo.

A obra quebra qualquer conceito de tratamento psicológico como uma forma de resolução de problemas. Ele não é contra a psicologia num sentido de estudo da mente humana – afinal, o próprio filme faz isso o tempo todo – mas sim no sentido de que algum tratamento possa ajudar. É o próprio ser que deve passar por uma epifania metanoica.  Cai também o conceito de bom-selvagem de Rousseau. O próprio diretor, Stanley Kubrick, já comentou que o filme visa provar que a maldade já está entranhada no ser humano.

Essas obras são geralmente de múltipla interpretação. Alex então é um protagonista que pode ser visto de várias formas. A mais comum é a imagem um desajustado que fora corrompido pela sociedade em que vive. Eu analiso diferente. A julgar pelo gosto refinado de Alex para a música e moda, o protagonista pode ser visto como alguém que não fora influenciado pela sociedade. Enquanto o padrão requer que todos sejam comportados e alienados (não gosto da palavra, mas é a que melhor se encaixa no contexto), Alex surge com um pensamento próprio, fora do comportamento mundano e fazendo o que bem entende. O social não cultua a cultura. Alex a cultua. Alex, inclusive, pode ser um trocadilho que mistrua grego e latim (respetivamente) para A-Lex, ou seja, sem lei, embora esse nome possa ter sido mera coincidência.

Será Alex então uma Laranja Mecânica?2  O neologismo Nadsat implica que Laranja significaria homem, então uma Laranja Mecânica é o ser humano programado, condicionado, repetitivo, por fim. Alex foi programado para que não aja com violência. Atribui-se a qualidade da máquina a um ser orgânico. Esta programação torna-se clara quando Alex, no hospital, conta à psicóloga sobre seus sonhos, onde neles havia outros operando o seu cérebro diretamente.  Junto com essa programação, vai-se também seu amor por boa música, o que comprova a interpretação que essa característica da apreciação da arte é tida por indivíduos não-alienados, pois Alex agora estava inserido em seu mundo, não precisava apreciar mais a boa arte.

Laranja Mecânica é um título paradoxal no sentido inversamente proporcional ao de “Computer Blue”. Como pode a Laranja, um ser humano, ter características inorgânicas como a mecanização?

A ambientação do filme é fantástica. O clima escuro e frio que remete ao socialismo está sempre presente, principalmente nas arquiteturas, como complexos habitacionais onde os cidadãos são praticamente encaixotados, igual ao lado oriental da Alemanha, por exemplo. O Bar de Leite Korova também possuía decoração singular: representações do feminino nu em todo o local. De seios, saía o leite – com drogas nele diluídas – que bebem os frequentadores do local. A mulher-gato que é assassinada por Alex também possuía certo gosto bizarro para arte, pois em sua casa era ostentada de diversas formas pela representação do falo. A maquiagem que Alex usava ao redor do olho era sutil, porém impactante.

Assim como várias outras peças-chave da literatura, exemplificadas por O Conde de Monte Cristo e Dom Casmurro, até hoje se especula sobre os vários possíveis significados dessa obra. É possível ficar dias escrevendo sobre seu teor crítico, reflexivo e simbólico.

A trilha sonora também merecia uma análise à parte (que não vai ocorrer, contudo). Desde o tema principal às clássicas de Beethoven e Elgar, passa-se a ser impossível escutar novamente Singin’ In the Rain e a Nona Sinfonia sem a assimilação às cenas do espancamento do escritor e à do sexo nas nuvens, respectivamente. Laranja Mecânica não é apenas um filme com um bom roteiro, uma boa trilha sonora e um bom screenplay, apenas. É um filme em que essas três características conseguiram se assentar de forma única. Laranja Mecânica é um conjunto perfeito.

A Laranja Mecânica é um clássico. É um dos poucos filmes que conseguem ser aclamados como melhor do que seu livro de origem. Alex inspiraria ainda outros anti-heróis e vilões como Zolf J Kimblee e Kira Yoshikage.  Laranja Mecânica é o que todos precisam: Um filme Inteligente com cenas impactantes e personagens marcantes. Agora você sabe a origem do apelido dado à seleção neerlandesa de futebol. 3


Informações

  • Autoria Original: Anthony Burgess
  • Duração:137 Min.
  • Ano:1971
  • Direção:Stanley Kubrick
  • Roteiro:Stanley Kubrick
  • Trilha Sonora:Walter Carlos
  • País: Inglaterra
  • Gênero: Ficção Científica
  • Estrelando: Malcolm McDowell, Godfrey Quigley, Anthony Sharp, Patrick Magee, Warren Clarke

Notas:
[1] Entra-e-sai é como Alex se referia à relação sexual.
[2] “Serei eu apenas uma laranja mecânica?” é uma frase do próprio livro, quando Alex começa se questionar sobre suas ações, ocorre no momento em que ele lê um pedaço do livro do escritor que espancara (e que se vingaria dele mais tarde). Tal livro, propositalmente se chama “Laranja Mecânica”.
[3] O apelido foi dado graças às rápidas jogadas ensaiadas da equipe, somado ao fato de que o uniforme principal da mesma era laranja.

Análise: Gosick

Um comentário prévio ao início. O motivo de eu ter acompanhado esta “coisa” até o final é um só: Estúdio Bones. Sejam os animes fantásticos que ele já produziu (como Fullmetal Alchemist e Eureka Seven) ou as coisas fracas e porcarias (Ouran High School Host Club, Heroman), a qualidade da animação é sempre fantástica. Se eu estou em dúvida sobre assistir algum anime, verifico o estúdio e é Bones, a dúvida some e se torna a certeza de que irei acompanhar. É por isso que se Jojo for virar anime um dia, é pelo Bones que eu quero (ou Tatsunoko, mas é mais porque só tem coisa Old School e Underground). Agora vamos começar, de fato.

Se rotular Gosick, de alguma maneira, eu colocaria como um Scooby-Doo Japonês Moeshit de boa premissa, porém mal executada. Nosso protagonista é Kazuya Kujo, um Japonês que chega de intercâmbio ao fictício reino de Saubure, em 1924, durante o período entre guerras. Em seu colégio conhece uma garota chamada Victorique. Aparentando ter menos idade do que tem, a pequena loira de olhos verdes é dotada de incrível conhecimento sobre o mundo, mas nunca comparece às aulas, passando o dia inteiro no prédio da biblioteca, lendo.

De tempos em tempos, um detetive chamado Grevil de Blois aparece com algum caso insolúvel para que Victorique realize a façanha de resolvê-lo, agora com a ajuda de Kazuya Kujo que, de alguma maneira estupidamente intrometida, começa acompanhá-la. A verdade é que 20 dos 24 episódios do anime ficam resolvendo casos de forma aleatória, que em sua maioria, nada influenciam ou sequer criam um enredo, gerando um desenvolvimento às pressas do 21 ao 23 e uma conclusão ruim no último, sem falar da impressão de ausência gerada pelo “deveria ter alguma coisa entre o penúltimo e último episódio”.

A maioria daquilo que Gosick tem a audácia de chamar de caso possui temática igual às de Scooby Doo: alguém usando uma lenda local para realizar seus objetivos pessoais. O problema, é que Maldita Saubure tem infinitas lendas sem pé, nem cabeça, então geram crimes idem e que, por sua vez, não se mostram condizentes entre si. Há muitas falhas na consistência daquilo que chama de enredo. Os próprios personagens acabam por serem catalogados como lendas vivas, a exemplo de Kazuya que vira o Ceifeiro da Primavera e Victorique, que é, ao mesmo tempo, Fada Dourada, Monstre Charmant e Lobo Cinzento.

Tudo Gosick tem de inteligente, é mal executado, principalmente a ambientação. Gosick é uma série de puro fanservice que retrata um romancezinho utópico e brega, cheio de passagens do enredo (?) totalmente desnecessárias e gigantesca preferência de personagens para o lado do autor. Falha como anime de romance por ser bobo demais. Falha como anime de mistério por ser inconsistente demais. Falha como anime por ter um enredo ruim. A má exploração dos personagens deixou-me pasmo. O quanto de potencial havia em Brian Roscoe, o mágico duplo e no Conde de Blois e foi desperdiçado para dar atenção à professora e sua amiga – que sou capaz de jurar que formavam um casal lésbico – deixou-me perplexo.

Vou destacar agora as poucas coisas boas. A primeira foi a analogia à Nossa Senhora durante um flashback de um bombardeio da primeira guerra mundial. A segunda foi o primeiro enigma do alquimista Leviatã (o outro foi ruim e bobo). O Terceiro, por fim, é o da misteriosa loja de departamentos.

Na parte técnica agora, por ser estúdio Bones, acabamos por presenciar um anime de animação belíssima e fluida, bem como aberturas e encerramentos que dão conta do recado (destaque para o segundo encerramento).

Em poucas palavras, o quê dizer de Gosick? Enredo ruim, Ambientação mal explorada, Plotwists desnecessários, Personagens estereotipados e uma arte que consegue suprimir tudo isso e ser, inexplicavelmente fabulosa. Ainda assim, não recomendo perder tempo com Gosick. É igual a alguém que decide abrir a boca para falar merda com palavras bonitas e todo mundo aplaude. O anime não passou de uma eterna promessa (exceto para mim, que levo tudo para o negativo antes mesmo de ser lançado).


Informações

  • Autoria Original:Kazuki Sakuraba (Enredo) e Hinata Takeda (Arte)
  • Episódios:24
  • Ano:2011
  • Direção:Hitoshi Nanba
  • Roteiro:Hitoshi Nanba
  • Trilha Sonora:Kotaro Nakagawa
  • Estúdio: Bones

Análise: Purple Rain – Prince

Tá bom. Já escutei a discografia inteira e estou começando a ficar de saco cheio já (apesar do cara ainda ser um excelente artista). Para me privar do vício (agora, depois dele, vou escutar a discografia do David Bowie) – vou encerrar essa etapa musical analisando o disco mais famoso se Sua Majestade Púrpura: Purple Rain.

Purple Rain é um disco lançado como um Álbum-Trilha-Sonora do filme homônimo, em 1984. Vendendo aproximadamente vinte mil cópias, o disco ganhou dois Grammys e um Oscar (como essas premiações valessem alguma coisa) e até hoje é citado nas diversas listagens de melhores álbuns de todos os tempos, sem falar na forte influência que exerce nos artistas contemporâneos, como Nicki Minaj e Rihanna. Provavelmente já devem ter ouvido falar deste álbum/filme no seriado “Todo Mundo Odeia O Chris”, aquele que é exaustivamente reprisado pela Record, igual ao Chaves no SBT.

Como um todo, o quê o disco tem de tão especial? Ele é musicalmente rico. Possui conteúdo diverso. Diversos ritmos diferentes. Músicas que não são parecidas entre si. E o melhor, possui algo chamado “qualidade”. Não é difícil fazer um disco com tamanha diversidade. O difícil é fazê-lo e ainda por cima, ser bom. É realmente indescritível como um álbum de nove músicas apenas consiga ser infinitamente superior a um álbum padrão de hoje em dia, com uma média de quinze músicas. Este foi realmente um período protagonista de uma explosão de criatividade sem-igual. E tal criatividade criou um álbum com músicas que mesclam o Metal, Rock, Pop, R&B, Psicodélico e Eletrônica. Purple Rain trata do sentimentalismo humano. Aborda questões jamais colocadas em pauta antes. É um turbilhão emocional, onde ao fim, cada faixa do arco-íris é representado por uma música.

Abrindo o disco, logo de cara encontramos Let’s Go Crazy. A introdução lembra aqueles sermões de Igreja, mas é uma das mais icônicas do pop. Seguindo, a música se revela como um Pop Punk (igual às músicas do Green Day, por exemplo), dando prioridade ao riff de guitarra e encerrando com um solo de guitarra fabuloso. A letra diz apenas para que fiquemos loucos caso peguemos um elevador que vá para “baixo”. A metáfora está neste baixo, que se refere ao Inferno e não nos deixarmos levar pelo “D-Elevator”, onde este D claramente se refere ao diabo. A letra nos estimula a procurarmos pela “Banana Roxa” até que nos coloque dentro do caminhão. Basicamente, o caminhão iria para o céu e a Banana tem um duplo sentido. Pode ser tanto para ficarmos loucos (banana, no inglês, pode ser o nosso equivalente a “xarope”) atrás do que não é normal, uma banana roxa não é normal, não? O outro sentido poderia se referir à Banana como prova de Deus, pois há um teólogo que coloca a banana como tal, por ser anatômica, fácil de descascar e mastigar e o roxo é a cor que representa a realeza, no caso, de Deus. No filme é exibida uma versão estendida e coreografada.

Seguindo a hipótese de que o disco é um caldeirão de gêneros, chegamos a Take Me With U. É, com certeza, a música mais fraca do álbum. Mas, todo santo álbum de qualquer artista hoje em dia, tem uma música falando sobre algum casal se amando – não tirando o mérito desta, ainda assim. Tal música é um dueto com Apollonia Kotero, sua namorada na época e no filme e era para constar originalmente no álbum da mesma. De última hora, foi introduzida em Purple Rain e isso, (infelizmente) resultou num corte da versão de quatorze minutos de Computer Blue. Quando eu a escuto, não sei o porquê, mas um rosa bunda-de-bebê me vem à mente.

A terceira música do álbum é The Beautiful Ones. Com temática similar à Behind the Mask, como disse num outro review, acaba por ser singular. Não é algo comum, músicas sobre problemas no relacionamento. Comuns são músicas como a que citei no parágrafo anterior. Ela pede para que a mulher amada escolha entre o Eu-lírico e outro cara, dizendo que as mais belas são as mais difíceis de agradar. A cor que essa música me lembra, acaba por ser o verde. Não sei, talvez seja porque essa cor é a imagem da segurança e da proteção e cria um ambiente propício para tomar decisões, como no caso daquela em que o Eu-lírico direciona a música.

Computer Blue é uma obra-prima e retrata a fase pós-crise num relacionamento, a revolta. A impressão que o eu-lírico tem de que sua amada o deixou por causa dele mesmo, da paranoia, de que tem algum problema com seu “maquinário” e até que ele encontre o verdadeiro amor de sua vida, ele será um computador triste. A canção é paradoxal. Um computador é uma máquina. Não pode ter sentimentos. Não pode ficar triste (blue também é uma expressão para tristeza). O Azul também representa buscas incessantes, bem como a descrença e desconfiança, além da melancolia. A versão de doze minutos é conhecida como “Hallway Speech”, e implica que os sentimentos foram programados neste computador, além da própria “fala do corredor”, onde há uma correlação entre o relacionamento e uma casa cheia de corredores, onde cada corredor tinha o nome de um sentimento. Computer Blue explora a nata do sentimentalismo humano e as consequências de um relacionamento.

 A música também se aproveita de um sample de Computer Love, do Kraftwerk, a qual compartilha dos dramas existenciais e sentimentalistas do ser humano, tratando o amor de forma mecânica e programada, retratando ambas máquinas alienadas.

A próxima é a infama “Darling Nikki”, onde, num ritmo trash metal, conta sobre uma garota chamada “Nikki” que o encontrou num saguão do hotel e o chamou para passar o tempo. Então, o Eu-Lírico não pôde resistir quando viu pequena Nikki na cama. No final, ela acaba o deixando. A metáfora está na crise existencial do eu-lírico por este ser pervertido, retratando o sexo com Nikki como algo mecânico e inumano. A apologia seria como se a garota fosse o diabo com quem o eu-lírico vendeu sua alma. Ela simplesmente deu o que ele quanto ela queriam, mas de modo não satisfatório. Ao fim, ele fica a ver navios, esperando por ela, querendo mais. E ela, apenas o usou. Esta música gerou muita controvérsia pelo seu conteúdo, chegando ao ponto de um órgão ser criado para classificar a faixa etária dos álbuns lançados. Apesar de nunca ter sido lançada como single, é bastante popular e serviu de inspiração para a música “S&M”, da Rihanna, por exemplo (ela inclusive a cantou uma após a outra durante os shows da turnê Loud).

A Catarse, mais especificamente, é o estado de purificação emocional causada por um drama, que significa purgação, evacuação. Segundo Aristóteles, seria necessária uma passagem da felicidade para a tragédia para que a catarse seja atingida. When Doves Cry tem a capacidade de causar este estado de emoção. De modo revolucionário para a época, a música expressa não o tão comum romance perfeito (retratado por Take Me With U, por exemplo), mas os lados negativos de uma relação em crise de forma psicodélica e paranoica. Uma relação onde nenhuma das partes se sente confortada, satisfeita. A Impressão de que falta algo crucial nesse vazio, mesmo quando tudo parece perfeito diante da visão dos terceiros. Há uma intertextualidade shakespeariana de Romeu & Julieta, onde há um amor utópico – perfeito no papel, impossível na prática . A reflexão do relacionamento entre seu pai e mãe no próprio, bem como a representação da imagem da mãe na amada e a inconformidade de que, por mais que odeie o modo como os pais acabaram, a história se repetiu. As brigas e discussões se parecem com o triste e melancólico som do guincho do pombo, símbolo que representaria liberdade, fé, paz, amor e beleza. Analogia a Adão e Eva e o modo com que até os animais conseguiam sentir a atração do casal, mas em meio a um campo de violetas em profusão, onde a flor roxa que representa a ausência de fé.

When Doves Cry é realmente um fenômeno. Há uma genialidade inexplicável contida nela (talvez, a mesma de Billie Jean). Mesmo na composição ela se destaca por ser fora do padrão, do comum, com a ausência do baixo, bem como a introdução com a guitarra e o longo solo de sintetizador, sem falar da voz robótica que tudo isso acompanha. Só é decepcionante o clipe que tal música acabou ganhando – feito com pedaços do filme, em sua maioria.

O Prince é um cara totalmente megalomaníaco, mas, por favor, I Would Die 4 U é o cara se comparando a Cristo. A simples música se passa por uma declaraçãozinha de amor, quando, quando lida com atenção, é a própria comparação com uma entidade superior. Logo de início, ele já se diz como algo que não é nem homem, nem mulher. É algo que jamais compreenderemos. Pode parecer só a questão da própria androginia, mas na mesma estrofe, ele já diz que sempre concederá perdão, mesmo para o mais maligno indivíduo, igual à Cristo em sua crucificação. Quando ele se refere que não é um amante e muito menos um amigo, ele se refere ao amor que Deus nutre por sua criação, algo que não se classificaria em nenhuma dessas situações. Ainda, ele se classifica como messias e seria esta a razão pela qual ele morreria por alguém, assim como Cristo morreu por todos os pecadores. Há também ele se dizendo como o fogo de quando você está com frio e a felicidade quando há a tristeza, versos que paralelizam a própria religião, que é aquilo que as pessoas se sustentam quando estão com problemas, como a tristeza e o frio.

Há ainda novas comparações com o Pombo, sendo este reconhecido pela igreja como o símbolo do Espírito Santo, bem como o “4” no nome da música. Pode ser bem a mania que o Prince tem de trocar o “for” comum por um número quatro, mas quatro também é o número de pontas de uma cruz. Por fim, ele encerra dizendo que é a consciência, que é o amor e que tudo que precisa, é saber naquilo que acreditas, bem como Cristo que nos perdoa sabendo apenas que acreditamos na sua existência. I Would Die 4 U não é tão genial quanto When Doves Cry, mas prova que uma música pop simples ainda pode ter algum conteúdo para mostrar, ao contrário dos “Baby” e “Friday” da vida. E a Coreografia é ligeiramente bizarra também.

Baby I’m A Star retrata o auge do cantor em questão e sua ideia de querer se manter lá. Basicamente, um resumo de sua filosofia de vida, não só dele, mas compartilhado por muitos outros artistas, como por exemplo, a Lady Gaga (que já assumiu que quer fazer sucesso daqui a cem anos). Algo bastante curioso, é que a última música a ser tocada no filme é esta. E ela possui uma backmasking que diz “Come on, baby, Let’s Go Crazy!”. Ou seja, ele encerra o filme do mesmo modo em que começou.

A nona (e última) música do álbum é nada mais, nada menos que a faixa título, Purple Rain. A letra explica o filme e o filme explica a letra. Composto em três estrofes e três refrões, cada uma se refere a três estágios da vida do personagem: O primeiro é sobre seu pai. O segundo é sobre sua amada e o terceiro é sobre seus colegas de banda. Com a música, Prince tenta convencer a todos que devemos enfrentar os nossos problemas e medos, olhando por aqueles à sua volta, ao invés de se isolar no próprio orgulho e em suas dúvidas. Você sempre vê as pessoas fugindo da chuva, mas não há motivo para fugir. É só chuva. Para quê tanto pânico? O Roxo, além de ser a cor da realeza, também é a cor da reflexão. Da preparação para alguma mudança, da penitência (tanto que esta é a cor da quaresma). Logo, estamos falando da chuva da mudança. É, de certo modo, uma música bastante hipócrita, a julgar quem a canta.

Purple Rain é uma Power Ballad (igual à Still Lovin’ You, do Scorpions e Is This Love, do Whitesnake) e é conhecida por ser uma das canções mais tocantes dos anos oitenta. Com seus oito minutos, sendo estes apenas cinco de instrumental, Purple Rain tem uma das composições mais elogiadas e seu solo de guitarra é considerado como um dos maiores solos de todos os tempos.

Talvez o impacto de Purple Rain na música seja maior que o de Thriller. Apesar de ser menos conhecida no meio popular, é extremamente influente dentro da própria indústria. É a mesma coisa que Jojo’s Bizarre Adventure para a indústria de mangá. E se Jojo está para Purple Rain, Hirohiko Araki está para Prince. É realmente uma pena que tão genial artista tenha se tornado tão perturbado. Musicalmente falando, Prince seria algo como “quando John Lennon e Jimi Hendrix se encontram”.


Lista de Faixas

  1. “Let’s Go Crazy” – 4:39
  2. “Take Me With U” – 3:54
  3. “The Beautiful Ones” – 5:13
  4. “Computer Blue” – 3:59
  5. “Darling Nikki” – 4:14
  6. “When Doves Cry”  – 5:54
  7. “I Would Die 4 U” – 2:49
  8. “Baby I’m A Star” – 4:24
  9. “Purple Rain” – 8:41