Análise: 「C」 The Money of Soul and Possibility of Control

Toda a história deveria seguir um enredo coerente, com começo, meio e fim. No começo, reservam-se as apresentações de personagem, enredo e conceitos. O desenvolvimento é quando o enredo começa a formar uma cronologia de acontecimentos que levam ao clímax, o ápice da série e quando tudo começa a fazer sentido e o fim, logo depois do clímax, para encerrar, fechando as pontas necessárias e dando um final coerente. É claro que todas essas ligações precisam fazer sentido e se mostrarem relativamente originais e bem montadas, mais especificamente, como eu gosto de dizer, com “sacadas”.

「C」 The Money of Soul and Possibility Control se encaixa nesse esquema. Seguindo a linha de uma outra série que muito boa – Speed Grapher – , é um enredo relativamente original, bem desenvolvido, cliffhangers e plotwists bem armados e uma conclusão coerente. Afirmo desde já que foi o melhor anime do ano. É um anime cujo foco central é uma crítica ao capitalismo e com uma pitada de reflexão para com o passado, presente e futuro. É clichê sim. É ruim? Muito pelo contrário. Hoje em dia, absolutamente tudo é clichê. O que vale, é como o clichê é usado.

「C」 conta a história de Kimimaro Yoga, um jovem estudante de economia que é convidado a fazer parte do Distrito Financeiro, um mundo paralelo onde lutas ocorrem entre os Empresários usando seus ativos para a manipulação da economia no mundo real. Intimado por Masakaki (algo como um anfitrião do Distrito), Kimimaro aceita, mas todos que topam participar do Distrito Financeiro perdem a garantia de seu futuro. Kimimaro então tenta manter-se e manter seu futuro nessa briga, mas acaba se metendo numa conspiração capaz de abalar economicamente todo o Japão.

Vamos por partes agora. Primeiro na terminologia. O Empresário é aquele que aceita ingressar no Distrito Financeiro e se afiliar ao Banco de Midas, como Kimimaro. O Banco de Midas é o responsável a pagar os empresários após cada luta (chamadas negociações) ganha ou perdida com o Dinheiro de Midas, uma variação do dinheiro comum que para as pessoas normais, parece com uma nota mundana, mas sua verdadeira aparência – uma nota negra – só se mostra para os Empresários. Quem participa das negociações com os Empresários, são os Ativos. Os Ativos são a representação do Empresário e lutam como se um Pokémon lutasse para seu treinador ou uma Stand para seu usuário. Após um Ativo enfraquecer o outro, cabe ao Empresário realizar um golpe direto no oponente, para finalizar a luta.

Outro fator importante é com relação ao Futuro. Este futuro é tomado do Empresário no momento em que ele efetua o acordo com Masakaki. Caso um Empresário perca uma Negociação de modo muito feio, ele acaba por ir à falência e expulso do Distrito Financeiro. Como havia o seu futuro como garantia, ele perde tudo que havia acontecido em sua vida antes de ingressar ao Distrito. Se em sua permanência no Distrito, o Empresário tivera uma filha, muito provavelmente ela simplesmente nunca terá existido, após a derrota do Empresário. E o mundo segue como se essa menina nunca tivesse existido.

Após se deparar com uma situação igual ao exemplo acima, Kimimaro decide ser mais precavido e ingressa na guilda de Souchirou Mikuni, cujo principal objetivo é diminuir os impactos econômicos no mundo real, e por causa disso, acabam por participar de suas negociações causando o mínimo de prejuízo para o perdedor e lucro para o vencedor. Esse início e desenvolvimento acabam por levar ao clímax por volta do episódio sete, a metade da série. O clímax que se desenvolve explora o plano de Mikuni em sua integridade, que visa à valorização do presente e entra em oposição à de Kimimaro, a valorização do futuro.

Vejamos, é um enredo muito bem montado e com suas “sacadas”, como gosto de dizer. Só porque é maçante, não significa que seja enrolão, a principal acusação à série. Hoje em dia diz-se muito de “clichê”, e a acusam a originalidade da série justamente por não ser clichê. Falando sério. Ser anticapitalista é clichê desde o início do fortalecimento do socialismo e do comunismo. A Rússia já é anticapitalista desde 1917. O mundo começa a ver o lado ruim do capitalismo já em 1929. Movimentos anticapitalistas estão aí desde os hippies e a década de 60. A proposta do anticapitalismo não é nem um pouco original. Contudo, se encaixa nos mesmos moldes do enredo ecochato. É algo que a sociedade está cansada, mesmo, de ficar

Reclamam do final previsível. Ok, reclamem com Tolkien, com seu Senhor dos Anéis. Reclamem com Lima Barreto e seu Triste Fim de Policarpo Quaresma. Hayao Miyazaki e seu A Viagem de Chihiro, e muitos outros filmes. Todos eles possuíam final praticamente certo. Senhor dos Anéis, que é uma saga que quer deixar bem explícito a diferença entre o bem e o mal, sendo que o mal é aquele que se ferra e o bem sempre ganha, portanto, logo se sabia que Frodo ia jogar o anel na lava. Estava mais do que na cara que a Chihiro ia voltar para o seu mundo. Claro, ela não tinha culpa de nada. Aliás, foi a única que não chegou a fazer nada. E Policarpo? Esse tem o final resumido no título, vai dizer que não é previsível que ele iria morrer? O final previsível vale. O interessante é como foi alcançado esse final – no desenvolvimento e clímax -, onde no caso de 「C」, foi muito bem montado. Ah, em FMA também era bastante óbvio que os irmãos iriam recuperar seus corpos (no caso do mangá e do anime Brotherhood), mas alguém imaginaria que o Ed iria chegar àquela conclusão e ficar da maneira que ficou? Não digo “não” com certeza, mas um bom naco dos leitores nunca iria chegar nesse meio que levou a um fim previsível.

「C」 é o melhor anime da temporada e do jeito que anda a animação japonesa será o melhor do ano. Consegue passar uma mensagem coerente de maneira ligeiramente hipócrita (um anime, produto para vender, falando mal desse sistema de compra e venda) utilizando uma boa animação, com momentos CG (mas ainda existem melhores, contudo) e uma trilha sonora oito ou oitenta (destaque para a OP e nojo para a ED). 「C」 The Money of Soul and Possibility Control é da Tatsunoko é prova que um anime pode muito bem gerar um início, desenvolvimento e conclusão sólidos com apenas 11 episódios e se provar bom do que montanhas de merda com 300 episódios e que demora 280 para engrenar.


Informações

  • Produção Original
  • Episódios:11
  • Ano:2011
  • Direção:Kenji Nakamura
  • Roteiro:Noboru Takagi
  • Trilha Sonora:Taku Iwasaki
  • Estúdio: Tatsunoko Production

2 comentários sobre “Análise: 「C」 The Money of Soul and Possibility of Control

  1. Realmente, magnífica análise, parabéns. Porém, gostaria de salientar que uma análise simbólica do mundo em questão (O Distrito Financeiro) seria ainda mais interessante para complementar a análise, a quantidade de idéias esotéricas que explicam o misticismo do mundo surreal do Distrito. Pelo que parece animes como: Speed Grapher, Code Geass e C, por terem um enredo original, se mostram como a formação dos animes de categorias cults.

Deixar mensagem para Danilo Cancelar resposta