Um review por parágrafo: filmes de Pokémon

Eu gosto muito de ver um filminho de Pokémon quando estou no tédio. São longas muito gostosos de assistir por conta das narrativas bem leves e de rápida assimilação por conta do universo já familiar do anime corrente (ao que também assisto até hoje). Existir mais de vinte deles é chega a ser bem útil no que diz respeito a fazer um rodízio entre o que eu vou deixar rodando para passar o tempo. Assim, decidi agora listar os 21 filmes lançados até hoje e deixar a minha opinião rápida sobre cada um.

Só para explicar, essa coluna do Horny Pony funciona da seguinte maneira: Vou listar os filmes todos e fazer uma resenha rápida de um parágrafo (não tão curto) por título. Geralmente eu faço algum comentário sobre “se faltou algo é porque não consumi ou não lembrei”, mas nesse caso não há muito para onde fugir e asseguro que cheguei a assistir todos esses principais. Ah, gosto dos nomes japoneses enormes desses filmes, lide com isso, ok?


Série Original

Mewtwo Contra-Ataca (Filme 01): as pessoas costumam tê-lo como um de seus favoritos até hoje, mas eu sinceramente creio que ele envelheceu mal demais. A edição americana tem todo aquele excesso de explicação junto das piadinhas infames que em português perderam completamente o sentido, como os Vikings de Minnesota, mas inventa um lore até que competente para justificar aquele bullshit das lágrimas revivendo o Ash — na versão original, os Pokémon só choram e ele deixa de ser pedra para voltar a ser humano, assim, do nada (na verdade, tem uma explicação subtextual justamente no prelúdio que ficou de fora da edição Ocidental). Em contrapartida, ele traz várias coisas que eu adoro, como a ausência completa de trilha sonora em alguns momentos (trazendo uma atmosfera de silêncio sepulcral que reforça a grandiosidade de algum ambiente, como uma igreja) e alguns minimalismos, como as cenas do Mew sozinho. Aliás, a aparição do Donphan, dentro do contexto do lançamento do filme, foi pica demais, uma das melhores primeiras impressões possíveis para um Pokémon novo.

Nascimento Explosivo de Lugia (Filme 02): é fácil um dos meus favoritos. Com uma liberdade criativa quase irrestrita, em vez de apenas ter que encaixar algum Pokémon no enredo ou criar um enredo em volta dele, Lugia foi concebido do zero pelo time de produção só para exercer a sua função narrativa aqui, que é a de mestre das três aves lendárias, além de criar uma verdadeira mitologia à sua volta, com a história de sua profecia, bem como a música que com ela se relaciona. Mais do que isso, ele consegue transmitir bem a força de uma lenda e o quão perigoso é se meter com esse tipo de força mística. O vilão Lawrence III evoca uma aura ameaçadora que a franquia não conseguiu reproduzir depois e a equipe Rocket rouba a cena no instante em que aparece para ajudar o pirralho.

O Imperador da Torre de Cristal: Entei (Filme 03): acho um filme tonto. É literalmente sobre uma menina mimada que não entende a doença da mãe e não aguentou ficar sem o pai cinco minutos após o cara ter ido comprar cigarro. Aí ela decide se meter com forças místicas ancestrais desconhecidas™ e pede um pai novo, mais legal, e que cospe chamas (roxas, o que me deixou confuso quando moleque). Não sendo suficiente, ainda o manda sequestrar a mãe do amiguinho para ela mesma conseguir completar a família de estrutura tradicional que sempre quis. Na real, ainda é outra instância cuja tradução corrigiu a original japonesa com seus cortes e edições, que fez com que progenitora dela (a de verdade) já estivesse desaparecida há uma cota e justificaria melhor sua solidão. Apesar disso, gosto da atmosfera mais soturna desse filme, bem como a direção de arte, bem como daquele clima de paranoia investigativo quando aparecem as fotos dos desenhos dos Unown desconhecidos no computador. O livro da Molly com o Entei também é foda demais. Ah, uma geração inteirinha conheceu o significado do termo “chapinhar” através dele.

Celebi: Um Encontro Além do Tempo (Filme 04): a palavra para definir o quarto filme da série original é “tolerável”. O problema mais crasso dele é a tentativa desesperada de tentar simular a atmosfera do estúdio Ghibli — nesse caso, a de Princesa Mononoke —, tentativa de emulação essa que se repetirá algumas vezes ao longo da franquia. Nesse experimento, o que se observa é um roteiro fraco que tenta se sustentar principalmente em sua atmosfera mística. Mesmo a reviravolta que indica que o jovem Sam é o Professor Carvalho (que a versão ocidental fez um esforço homérico para tornar o subtexto mais evidente ao ponto de encomendar novas cenas para o estúdio no Japão) se dá de um jeito meio besta. Além disso, eu não me recordava do quão boboca era o Celebi como personagem e do quão brega era aquele antagonista, aquele Vicious (que no Brasil virou Saqueador da Máscara de Ferro). Ele é, basicamente, o vilão babaca e superficial que o marketing ocidental adora e mal precisou mexer para torná-lo “vendável” aos olhos deles.

Deuses Guardiões da Cidade das Águas: Latias e Latios (Filme 05): o último filme da série original até tem algumas ideias interessantes, como ter sido uma das primeiras vezes da franquia a trabalhar a “morte” de um Pokémon, mas a impressão que fica é que houve muito potencial desperdiçado em um longa-metragem que se segura mais pela atmosfera do que pelo roteiro em si. Além disso, chega a ser incômodo como perdem tempo em sequências de perseguição estendidas artificialmente só para mostrar a utilização do CG nos cenários de fundo, uma relativa novidade para a época. Isso que eu nem entrei no mérito da versão ocidental ter cortado um pedaço da introdução e reescrito a boa parte do script, inventado que as ladras vilãs são da Equipe Rocket (porque parece que todo vilão precisava ser da Equipe Rocket) e aplicado um filtro azulado esquisito anos antes do Snyder se tornar tendência. Pelo menos, mantiveram a trilha sonora original (com exceção do incrível tema de encerramento japonês). O que pega nele é que a sequência de conclusão, antes dos créditos, é uma das coisas mais lindas já produzidas pela franquia, o que deixa o saldo final positivo por conta de uma maravilhosa última impressão.


Advanced Generation (Ruby & Sapphire)

A Estrela dos Desejos das Sete Noites: Jirachi (Filme 06): Esse também é um dos meus favoritos de todos dentre os mais de vinte longas de Pokémon. Toda a atmosfera, temática e mitologia trazidas foram muito bem feitinhas, do vilão sendo expulso da Equipe Magma em um flashback logo no início a até mesmo aquele vale que invoca aquele Groudon falso. Desde a película do Lugia que não se sentia uma ameaça global verdadeira por parte do bichão que é invocado de forma deformada justamente por ter sido produto de um desejo forçado. O Jirachi tinha tudo para ser mais um Pokémon mítico irritante (como o Celebi foi anteriormente e alguns outros serão mais para frente), mas conseguiu conduzir bem o filme e até sustentar um roteiro em que o Max (Masato, no original) fica sob os holofotes e não teve como resultado uma história constrangedora de se assistir, como são os episódios normalmente focados nele. Vale o destaque também ao tema de encerramento.

O Visitante que Caiu do Céu: Deoxys (Filme 07): Em termos de roteiro, ele é provavelmente um dos mais interessantes da série, com a construção desde o prólogo, com o Rayquaza tentando eliminar a ameaça extraterrestre a até mesmo à sensação de perigo constante na cidade controlada pelo Deoxys, como se fosse um representante do gênero de apocalipse zumbi, com os personagens tendo que sair escondidos para buscar comida. O que faltou nele é logo o que os longas de Pokémon fazem de melhor: construção de atmosfera. Faltou uma estética geral, por assim de dizer, que tornasse esse filme mais especial e diferenciado dentre outros. Parece ter sido feito a toque de caixa, sem um trabalho extra que o tornasse um evento, de fato. Sob certo ponto de vista, ele é o oposto do quarto filme, que aposta demais na atmosfera e tropeça na condução do enredo. Isso fica evidente na reta final, quando a problemática do Deoxys é solucionada de uma forma rápida e idiota, quando eles precisam tirar algum conflito do cu (no caso, o robô dando defeito) para conseguir concluir o longa.

Mew e o Herói da Onda: Lucario (Filme 08): Para escrever esta lista, fui assistindo todos os filmes aos poucos para embasar minha uma opinião mais atual sobre eles. Aqui, eu demorei pelo menos duas semanas para conseguir vê-lo completo, de tão chato que ele é, opinião que já era a minha desde quando eu vi essa bomba pela primeira vez. O oitavo filme é, no máximo, bonito, até mais do que os que vinham diretamente antes dele. Em compensação, não bastou colocarem os holofotes sobre o Lucario como o principal shillmon pós-Charizard, mas também fazerem dele um personagem mala para um caralho. Horroroso, ele até apresenta algumas ideias com potencial, mas nada nele é trabalhado o suficiente e o resultado é um produto de aspecto inacabado. Perderam tempo demais em tentar construir um cenário elaborado, mas ele desaba com muita agilidade quando segue em direção ao clímax, quando tudo se transforma em correria. A árvore decidiu atacar os pirralhos só porque eles estão lá? Nesse papo todo de ecossistema, a árvore simplesmente adquire Lúpus e faz seu sistema de defesa atacar ela mesma? Roteiro aqui é fragilíssimo e conveniente de forma estúpida.

Pokémon Ranger e o Príncipe dos Mares: Manaphy (Filme 09): Lembro-me bem do processo que esse filme fez ao tentar apresentar o Mítico Aquático para a audiência — e depois esquecê-lo em detrimento do inferior Shaymin. O enredo dele me pareceu bastante reciclado do longa do Jirachi, mas ainda é funcional. O problema é que, como ele não é lá muito elaborado, sai prejudicado por conta da duração (é o mais comprido de todos os filmes até hoje). Entretanto, essa película segue um belo comfort movie, especialmente depois de todo o tédio que foi o anterior. Ou seja, é uma questão de saber lidar com o ritmo da narrativa, responsável por tornar menos chata esta obra mais longa em relação a outra mais curta. Além disso, ela serve bem para fechar alguns ciclos, como o fato de que esta foi a última produção relacionada a Pokémon a utilizar animação em célula, assim como o encerramento terceira geração em si, que já estava fazendo hora extra por conta dos sucessivos adiamentos da Gen IV. No fim, gosto bastante deste, principalmente por dar algum destaque aos Pokémon Ranger e trazer novamente um toque de estúdio Ghibli, me lembrando um pouco até de Laputa: Castle in the Sky — com a diferença de que o daqui é um templo no fundo do oceano e que também funciona melhor do que as tentativas anteriores.


Pokémon the Series: Diamond and Pearl

A Ascensão de Darkrai (Filme 10): antes de tudo, eu usei até aqui todos os nomes dos longas-metragens em japonês por causa da sonoridade que eu acredito ser muito melhor, mas só aqui eu troquei para o nome americano porque o original é brega pacas (Dialga Vs. Palkia Vs. Darkrai). Dito isso, ele é um caso muito específico de filme bom, porém bem chato. O andamento da trama é bastante cansativo e parece sem muito foco em alguns momentos, mas a ideia geral se sustenta. Talvez porque ele é o plot do filme do Lugia com o Darkrai como lendário principal e a dupla mascote da quarta geração no lugar das três aves — até a música tem uma função central na história. A animação também ficou um pouco aquém: a transição para o 100% digital não deu muito certo nesta primeira incursão.

Giratina e o Buquê do Céu: Shaymin (Filme 11): O segundo filme dessa trilogia do trio da criação traz o Shaymin em uma empreitada para chegar no campo florido e encontrar seus iguais enquanto escapa de um Giratina que o persegue — que, embora pareça ser por motivos antagonistas, era, na verdade, para despoluir o mundo reverso (que sofreu com efeitos-colaterais da treta entre o Palkia e o Dialga no anterior), enquanto há um vilão que quer o Pokémon Renegado para fazer uso de seus poderes. Sob tal ponto de vista, ele funciona como uma espécie de reciclagem de Um Encontro Além do Tempo (por conta da questão ambiental) e de Estrela dos Desejos das Sete Noites (devido à estrutura da história-base, com o trio dos pirralhos viajando por conta do mítico protagonista). Além disso, o vilão — cujo modus operandi lembra o do Lawrence III, do segundo longa, usando tecnologia externa para capturar Giratina em uma jaula — se parece muito como um personagem originário de Yu-Gi-Oh. De um modo geral, achei essa sequência consistente a ponto de ser a melhor película da trilogia, mas um pouco chato em seu decorrer, especialmente em algumas cenas expositivas bem cansativas, como o Shaymin voando ao longo do rio com outros Pokémon. Ainda assim, ele é esteticamente muito mais bonito e com uma animação muito superior à de seu antecessor. Assisti-lo em um cinema deveria ser um verdadeiro desbunde visual.

Arceus: Pela Conquista do Espaço-Tempo (Filme 12): Afirmo que esse foi fácil o que eu mais tive dificuldade para me atentar enquanto assistia. Narrativa lenta e tediosa, tentei ver quatro vezes antes de enfim conseguir chegar até a conclusão. A proposta de ligar os três filmes até que foi interessante, mas a execução dessa ideia pretensiosa deixou a desejar. Houve muito improviso narrativo para conseguir fechar algumas pontas soltas dos dois longas anteriores, como o motivo de Palkia e Dialga estarem brigando (que acarretou a poluição do mundo do Giratina) ser por conta do iminente despertar de Arceus, o que fazia com que suas dimensões correspondentes se cruzassem entre si. Para variar, a questão da viagem temporal e as implicações que esse tipo de fenômeno traz para o presente foi bagunçada e pessimamente trabalhada, como se trabalhar essa temática já não fosse um terreno hostil o suficiente por si só. É tosco os heróis aprontarem no passado, voltarem para o presente e ver que nada mudou, mas acabou mudando por causa de uma lembrança pontual que surge do nada na cabeça do Arceus. Há espaço para argumentar sobre realidades alternativas, onipresença e onisciência do Pokémon em questão como a divindade que é, mas isso com certeza seria tentar justificar lacunas que nem sequer foram pinceladas pelo filme. Uma conclusão bem amarga para uma ideia cujo potencial foi desperdiçado.

Mestre das Ilusões: Zoroark (Filme 13): Começa errado por tentar replicar o oitavo filme ao dar o protagonismo a um bicho merda feito o Zoroark (não que punhetação de lendário seja algo bom também, embora preferível). Entretanto, ele logo se mostra uma grata surpresa em termos de enredo, até começando bem, com um empresário que cresceu em seu ramo por ter visões pontuais do futuro e as usou em seu próprio favor para enriquecer. A obra também traz um lore interessante ao mostrar que o Celebi precisa “recarregar” as baterias de viagem no tempo sendo isso o que o vilão quer para poder renovar o seu próprio poder, botando em prática um plano relativamente elaborado para uma película de Pokémon. O problema está no Zorua, que é um puta personagem chato e chorão, bem como a barriga que o longa apresenta no seu miolo, trazendo uma conclusão à Monstros S.A.. Também não entendi o motivo do vilão ter um cabelo de Garchomp e não ter um Garchomp como carta na manga, além da facilidade com que o cara, que é capaz de prever o futuro, é enganado. Ah, sentimentos variados. É certamente um dos filmes de Pokémon já feitos.


Pokémon Best Wishes (Black & White)

Victini e o Herói Negro: Zekrom/Victini e o Herói Branco: Reshiram (Filme 14): A despeito da sua ideia de potencial desperdiçado que foi fazer dois longas com uma visão alternativa para cada um dos lendários, o décimo quarto filme da franquia é o exemplo de como todos deveriam ser. Isso é porque ele consegue equilibrar a criação de uma atmosfera bacana com exposição de lore e senso de urgência no que diz respeito à trama do vilão. O antagonista, no caso, visa usar o poder de Victini para tentar restaurar um reino antigo — do qual ele é um descendente — à sua antiga glória. A animação também é bonitona e o Victini, por incrível que pareça, é um Pokémon Mítico do tipo “fofinho” bem gostável por conta de um incomum passado trágico. Esses décimos quartos filmes não são necessariamente um primor brilhante de execução, mas passam bem longe do ostracismo que os anteriores (de Hoenn) vinham passando. Além disso, ele até indicava um futuro brilhante para a quinta geração no anime — isto é, antes de o terremoto acabar com todo o planejamento, como acontece na sequência. 

Kyurem Versus o Sagrado Espadachim: Keldeo (Filme 15): Deve ser uma norma toda geração trazer um filme cujo Pokémon mítico é constrangedoramente irritante. Além disso, não é como se a obra fosse minimamente decente, tá? Ele só não vai ser o pior longa-metragem da franquia porque o do Genesect existe. Genérico até o talo com uma história sem graça (é só o Keldeo fugindo do Kyurem depois de comprar uma briga que não conseguia tankar), e fracassa até mesmo ao tentar trazer alguma mitologia, algo que as produções ruins anteriores, como o do Celebi e do Lucario, conseguiram. Pior, o trio dos pirralhos não passa de mero espectador na trama, aparecendo só depois de uns vinte minutos de filme rolando — que já é o mais curto da franquia, com setenta minutos no total. No fim das contas, não existe muito o que explicar nesse grande nada. Aquele terremoto em 2011 acabou mesmo com toda e qualquer perspectiva do OLM para a quinta geração, hein?

A Velocidade Extrema de Genesect: O Despertar de Mewtwo (Filme 16): É disparadamente um dos filmes mais idiotas da franquia. E não é por pouco. O problema não é trazer uma nova Mewtwo, como muitos pensam, mas no próprio enredo, que tenta impor uma dualidade idiota entre a Mewtwo e os Genesects, como Pokémon criados artificialmente. Esse longa-metragem bebe bastante do que foi feito no do Deoxys, mas errou a mão com força em tudo o que a sua referência direta acertava e só ficou uma correria chata do começo ao fim. Tudo nele é muito babaca e, de certo, um novo fundo do poço no que diz respeito aos filmes da franquia. Vergonha alheia mesmo.


Pokémon XY

O Casulo da Destruição e Diancie (Filme 17): E lá vamos nós com mais um filme tosco na sequência. Embora não tão ruim quanto o do Genesect, ele segue consideravelmente babaca. Além da Diancie preencher a cota de Pokémon Mítico que cansa nossa paciência, a proposta bacana de trazer mais de um antagonista é desperdiçada por uma execução falha e o final é extremamente anticlimático porque nada acontece, feijoada. O Yveltal em si é tratado como uma força perigosa iminente, mas na hora H, é nulificado com rapidez. Assim como os longas anteriores, é mais uma gigantesca perda de tempo com um grande nada.  Superior aos do Keldeo e Genesect, mas segue tosco.

O Arqui-djinn dos Anéis: Hoopa (Filme 18): Um deleite diante de tanta ruindade dos últimos títulos, a graça do filme do Hoopa está no fato de que eles decidiram jogar tudo para o alto e fazer basicamente um longa-metragem de Kaijuu. Sim, é isso mesmo: um filme de monstro gigante em que vários Pokémon lendários assumem esse papel ao brigarem uns contra os outros no meio de uma cidade. Foi até bom que nem tentaram dessa vez, só botou bicho grande para brigar na mais pura preguiça honesta. É ótimo.

Volcanion e a mecânica Magearna (Filme 19): O filme do Volcanion não é desastre, mas é certamente uma tentativa fracassada de emular a atmosfera e o estilo de roteiro dos primeiros ao mesmo tempo em que, novamente, forceja, sem sucesso, a incorporação de elementos do Ghibli (novamente) ao trazer um reino steampunk (água + fogo = vapor, sacaram, hein?) fictício dos céus e um vilão maluco que conspira contra o grande tesouro da realeza, Magearna. Trata-se de um longa de difícil proveito pelo simples fato de que o Volcanion, como guardião do lendário mecânico, é chato para um caralho. Medíocre é a palavra para definir a produção, para não dizer sem inspiração e sem vontade. Burocrático em seu estado mais puro.


Pokémon Sun/Moon

Eu Escolho Você (Filme 20): Tendo seus minutos iniciais servindo como uma espécie de remake da saga de Kanto, o vigésimo filme da franquia segue por uma de linha do tempo alternativa ao decidir dar holofote ao primeiro Pokémon lendário que Ash viu em sua jornada: Ho-Oh. Assim, trata-se de uma busca pelo Pokémon Arco-Íris enquanto há um Marshadow assombrando um novo (e desinteressante) trio de personagens, trazendo a dúvida para seus corações. De um modo geral, o que se sente nesta vigésima produção é que ela tenta trazer meio que uma metanarrativa em algumas sequências, tipo quando protagonista sonha que está em um mundo muito chato e sem Pokémon — o que inconscientemente bota lenha na fogueira naquela teoria de que ele na verdade é uma criança em coma — ao mesmo tempo em que carece de consistência narrativa interna, com vários personagens apresentados de um jeito no começo do longa e agindo de outro no final, mas sem um desenvolvimento que justificasse isso. Além disso, o terceiro ato é todo disfuncional porque alterna um ou outro momento emocional legítimo com uma série de elementos constrangedores, como o Pikachu falando em um delírio do Ash.

A História de Todos: (Filme 21): Ao contrário do anterior, este é disparadamente o longa-metragem mais interessante em vinte anos de exibições cinematográficas da franquia. Em vez de ficar punhetando o lendário ao longo da sua duração de noventa minutos, o vigésimo primeiro filme se preocupa em fazer o que seu nome propõe: trazer vários contos que se entrecruzam. No caso, a nova versão do Ash chega a um lugar chamado Fula City, onde ele conhece vários de seus habitantes, cada um com seus próprios antecedentes e motivações — em suma, sua própria história. Pontualmente, ocorre um desastre às vésperas de um festival em honra ao Lugia (que aparece apenas no finalzinho), algo que faz com que precisem se unir e, por consequência, acabam tendo que superar cada um de seus conflitos individuais internos, mas com a ajuda do coletivo. O Ash, então, não é um protagonista ativo, mas apenas um fio condutor, um protagonista passivo que processa o enredo da mesma forma que o público assistindo — e de um jeito bom, ao contrário do que foi idealizado na película do Keldeo. A animação é magistral e o Zeraora só existe aqui para cumprir tabela, com uma presença surpreendentemente orgânica e bem longe de ser o centro narrativo.

Mewtwo Contra-Ataca EVOLUÇÃO (Filme 22): É um filme patético, para dizer o mínimo. Eu defendo animação em CG, mas isso aqui é um negócio atroz. Apesar de ter uma animação relativamente boa, eu geralmente detesto essa textura estilo massinha de modelar, pois prefiro cel-shaded. Contudo, a coisa fica ainda pior porque a aplicação de tal estilo nos designs dos personagens humanos foi grotesca — nos próprios Pokémon até que dá para encarar. Outra, o longa-metragem chama a atenção porque eles mexeram pouquíssimo do roteiro original, tirando só a introdução da Amber — o que é de se lamentar, pois é um atestado de que os japoneses se submeteram ao marketing enlatado ocidental. Tirando os novos problemas, aí tem a questão da visão idealizada do original, né? Pois bem, a repercussão da internet foi de, com razão, destruir este remake. Só que ele é exatamente o mesmo longa-metragem de vinte anos atrás, mas em CG. A parada central: as pessoas o assistiram e finalmente perceberam que o enredo básico dele não tem sentido algum, especialmente agora, com uma tradução ligeiramente mais precisa (e tirando a supracitada história das lágrimas, que preenchia o buraco e tentava trazer algum sentido). É isso: esse filme não presta, bem como o original. Entretanto, acabam criticando-o só porque sua existência em CGI agora permite isso. Na real, essa recriação tem uma única finalidade: quebrar os óculos de nostalgia da galera.


Pokémon (Journeys)

Koko (Filme 23): Para os que não sabem, muitos dos principais episódios da série original foram escritos pelo Takeshi Shudou, o diretor geral que concebeu a abordagem conceitual do anime de Pokémon. A questão é que várias das histórias clássicas dessas primeiras temporadas nada mais são do que uma aplicação de histórias populares, só que se passando no universo Pokémon. Só pensar em “O Mistério do Farol”, o episódio do Dragonite gigante, que é uma adaptação de “The Fog Horn” (um conto de Ray Bradbury); ou na trilogia do St. Anne, que se inspira nos filmes The Poseidon Adventure e em A Ilha Misteriosa; ou ainda o do moleque Kangaskhan, que é um negócio meio Mogli. Pois bem, este longa-metragem do Zarude nada mais é do que uma versão Pokémon de Tarzan, mas com um plot de preservação ambiental mais forte. Depois do excelente vigésimo primeiro filme, eu esperava bem mais desse aqui — embora alguns elementos que ficaram no subtexto, como a lenda do Celebi que surge na selva no intuito de deixar um ovo misterioso (e que dá a entender que é a origem do Zarude Dada), chamem a atenção pela tentativa. O vilão é cocô — só fui perceber o trocadilho depois, perdão — e os personagens, desinteressantes. Achei que, depois de A História de Todos (ignorando o remake), as produções cinematográficas de Pokémon fossem seguir por um rumo mais inspirado e menos burocrático, mas infelizmente não parece que vai ser o caso.

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