Creisso Narra: Malcom and Melvin

Antigamente, o Cartoon Network tinha um bloco especial de curtas animados independentes chamado What a Cartoon (no BR começou como Desenhos Incríveis e depois foi renomeado para O Show dos Cartoon Cartoons) que funcionava também como uma forma de apresentar seus pilotos ao público.

Se um desses curtas fizesse sucesso, virava uma série completa. A verdade é que para cada desenho bom, tinha pelo menos duas tralhas, sendo que algumas eram verdadeiramente perturbadoras, especialmente para o Kid Creisso. Um desses era Malcom e Melvin.

Malcom and Melvin foi criado por Ralph Bakshi, um verdadeiro visionário da indústria de animação nos anos 70 e 80, responsável por títulos brilhantes como Wizards (1977) e Fire and Ice (1983), mas que certamente perdeu o toque em algum momento dos anos 90, dada a qualidade extremamente questionável dessa tralha (que ele mesmo renega, mas o passado o condena). Digo, esse troço me deixava com medo quando era criança e agora, marmanjo, mais de vinte anos depois, ainda me deixou perturbado quando o encontrei aleatoriamente nos confins da internet.

Nosso desenho começa em um cenário noturno e um palhaço surge cantarolando e dançando na paisagem urbana, uma cidade, como descrita pelo narrador, toda moderninha e com uma juventude promissora. Ele logo se encontra com um grupo cantando aleatoriedades como SIM, SIM, OH SIM.

Ao se apresentar (olá, eu sou Melvin), o palhaço — que a partir daqui chamaremos de Joaquin Phoenix — é escorraçado pela multidão. Na sequência, Joaquin cruza uma esquina e vê um Baby Supla se lamentando por ter perdido o peito da mãe (que aparentemente se recusa a amamentá-lo), quando uma jovem se prontifica a trocar a fralda dele. Joaquin tenta ajudar e é novamente enxotado, acusando-o de ser um degenerado.

A injúria foi ouvida por João Bafo-de-Onça em seu cosplay de Batman (que também era BolsoNeves, cuja aparição anterior foi no meu texto sobre o Lingerie Senshi Papillon Rose), que simplesmente começa a agredir Joaquin, chamando-o de pervertido — e tem quem ache que a melhor representação do Morcego como ele foi escrito pelo Frank Miller é a do Affleck. O palhaço, então, aceita a punição e agradece esse rótulo que a sociedade a ele impôs.

Mais tarde, Joaquin derrete na poltrona à frente da TV, pois se lembra que ele nunca conquistou nada na vida. Afinal, ele assiste a uma entrevista de algum cara se tornou um astro por ter vomitado no palco descobrir que seus fãs ainda o aplaudiam por isso, baita crítica social foda. Diante de tamanha desilusão, Joaquin chega a dar uma coringada com força e decide acabar com a própria vida, despedindo-se de sua mamãe.

A querida mamãe de Joaquin recai em miséria e acaba indo parar em um palco, quando começa a cantar como uma verdadeira Jessica Rabbit, algo que gera inconformidade na audiência até que ela volta à sua forma original e deixa todo o seu público com um tesão inexplicável. Sim, ironicamente, toda a melancolia a tornou um verdadeiro sucesso e a fez esquecer do trágico destino que aguardava seu filho.

Joaquin, então, vê a ascensão meteórica de sua mãe na TV — até aquela gordona miserável se tornou alguém, menos ele —, quando decide pular da janela amarrado a uma privada, mas não antes de escutar uma barata tocando Jazz em seu apartamento.

Você percebe que a existência de Joaquin é um verdadeiro fracasso quando nem cometer suicídio ele consegue, visto que ele é “salvo” por um Bimbo que vive no andar de baixo, que o puxa da janela e gratuitamente enche ele de porrada após os pedidos da Esposa Sensual de Desenho Animado™.

Depois de mais uma falha em sua vida, o palhaço volta ao seu apartamento e conhece a barata do Jazz, que chamaremos aqui de Joe.

Joaquin acredita que a música de Joe salvou a vida dele e promete dedicá-la à barata, tal como um extraterrestrezinho do Pizza Planet do Toy Story. Joe, então, volta a tocar e seu jazz chama atenção de ninguém menos do que a Esposa Sensual de Desenho Animado™ do andar de baixo.

O palhaço filho da puta dentro de Joaquin não perde tempo e logo clama a autoria da música. A Esposa avisa que vai voltar com uma roupa mais confortável e Joaquin implora para Joe entrar na boca dele e tocar o trompete do mesmo jeito que o Remy pilotava o Linguini em Ratatouille.

Afinal, ele vislumbrou, pela primeira vez em sua vida miserável, a oportunidade de dar uma agasalhada no croquete com alguém do sexo oposto. O plano é colocado em prática e a Esposa Sensual de Desenho Animado™ retorna com uma roupa estereotípica de colegial estadunidense (?).

A questão é que, em determinado momento, Joe perde o fôlego do Jazz e a Esposa Sensual também desiste do nosso Joaquin. Seria agora uma analogia à impotência sexual?

Pois bem, a Esposa vai embora e Joaquin, putaço da vida porque não conseguiu botar o Joaquin Jr. para trabalhar, simplesmente esmaga Joe dentro de sua boca. Claramente, ninguém o ama, ninguém o quer e por isso ele vai comer barata.

Após tal ato de homicídio, o arrependimento bate imediatamente e ele se vê cercado por um exército de outras baratas, da mesma forma que o Remy chamou a família dele para trabalhar no restaurante em Ratatouille e foi o principal responsável pela proliferação de leptospirose em Paris.

Preso em um estado delirante, o exército de baratas, com uma música, condena Joaquin a morrer de cócegas.

Sério.

Enfim, Joaquin acaba sendo salvo de seu surto ilusório — provavelmente estava em um forte estado de psicose — porque sua mãe gordona aparece cantando na televisão. A privada que ele tinha usado para tentar se suicidar cai sobre sua cabeça tal como uma bigorna em um desenho dos Looney Tunes e o palhaço volta a si, pois, segundo o narrador, “se defronta com seu passado sentimental”.

Nisso, Joe reaparece e decide fazer as pazes com Joaquin, tornando-se amigos. O palhaço finalmente tem alguém ao seu lado, a sua mãe gordona aparece novamente, bem com o o Bat-João Bafo-de-Onça, todos pirando com a música supostamente incrível de Joe. Ah, sim, também tem uma lua mal-encarada com um puta charutão na boca.

Eu falei no post de Lingerie Senshi Papillon Rose que 80% do post não foi sequer floreado para ficar absurdo, mas esse aqui se supera e a única coisa que eu precisei inventar foram os trocadilhos dos nomes dos personagens. É ainda pior. Dá não.

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