Análise: Star Wars – The Force Awakens


Sempre acreditei que o grande calcanhar de Aquiles de Star Wars era o próprio Lucas e suas skills questionáveis de direção e roteirista. O Argumento era perfeito. Era o Jornada do Herói do Joseph Campbell recortado e colado lá. E ele tinha integridade. Na hora de escrever o roteiro propriamente dito, o negócio geralmente chutava o balde. Tanto que eu sempre falei que os filmes eram o que menos interessava no universo todo. O que eu gostava era dos livros, quadrinhos e vidyagaems. A série animada do Tartakovsky dava um pau em todos os 6 filmes até então.

O meu favorito, por sua vez, é Uma Nova Esperança. Era o filme que ficava com menos mimimi de todos. Apresentava tudo o que tinha que apresentar, sem viajar na maionese ou querer ser pretensioso. Era só uma história de um maluco de preto que tocava o terror em geral e um candango qualquer no deserto que se meteu no meio da treta sem querer querendo e começava a ser um guerreiro MÍSTIKU com a ajuda do ancião local.

No entanto, o Lucas era um diretor ruim e não sabia fazer uma fotografia bacana. Os personagens todos eram uma pedra. Ninguém tinha personalidade. Luke, Han, Leia eram essencialmente iguais. Talvez um mais malandrex do que o outro, mas nada que realmente se destacava. O Darth Vader só tinha a concepção legal também, mas tinha muito pouca atitude. Dá para notar que velho que fazia o Obi-Wan não sabia o que estava fazendo lá. E o pior é que foi indicado a um Oscar pelo papel, o que prova que o padrão de atuação de antigamente era bem baixo. A rigor, os únicos personagens com personalidade eram o C3PO (que é irritante até hoje), R2D2, o verdadeiro herói moral da série e o Chewbacca, que, na moral, também era só um monstrengo que grunhia, mas na minha cabeça ele grunhia coisas do tipo “Han, vai se foder” e “Chupa, Stormtrooper de merda” e tal.

Considerando a inaptidão do George Lucas, achei ótima a aquisição da franquia pela Disney. Enquanto todo mundo reclamava, alegando o mimimi de que iriam botar o Pato Donald nos filmes e que iriam estragar o negócio, eu dei o meu apoio porque eu lembro de que o mesmo choro aconteceu quando a Marvel foi adquirida pela Disney e deu para ver o resultado disso tudo. Achei do caralho também quando botaram o J. J. Abrams (que agora vou chamar de Jar Jar Abrams) para dirigir, porque eu cheguei a ver os filmes novos de Star Trek e eram muito fodas. Principalmente porque eu sempre achei Star Trek um chute nas bolas de chato.

Aí o filme foi sendo produzido, e tal. Quanto mais começavam a hypar, menos eu ficava interessado, na verdade. Não é o famoso “pare de gostar do que eu gosto porque assim eu deixo de gostar e quero ser fã tr00”, mas porque a superexposição simplesmente fez o negócio cansar, saturar. Todo mundo falar é uma coisa. Agora a publicidade do Google, todos os veículos de comunicação, capa da Veja, tudo era motivo para ligar com a franquia e isso simplesmente me fez perder o interesse. Enquanto eu tinha uns amigos querendo ir logo na estreia, desesperados para ver uma, duas, três vezes, eu simplesmente sabia que iria lá para frente de sua exibição, provavelmente em dia de semana e no meio da tarde. Isso porque além de eu não estar desesperado também, eu simplesmente não aguento gente falando o tempo todo, fazendo comentário, rindo do que não é piada e o caralho a quatro.

(O pior é que mesmo na sessão vazia, ainda tinha gente falando merda, preciso patentear logo a minha sala de cinema com fone de ouvido individual e cadeiras para conectá-lo).

Sobre o filme: Gostei. Mais do que achava que ia gostar. Em resumo, O Despertar da Força é basicamente Uma Nova Esperança feito direito. Com um diretor gabaritado que, além de entender do negócio – nem o Lucas entendia a própria franquia, certeza – tem a técnica para fazer o filme. Sabe dirigir e escrever roteiro.

O filme começa num planeta desértico chamado Jakku, que nada mais é do que uma Tatooine 2.0. A diferença aqui é que enquanto Tatooine é morta, Jakku consegue ser viva, mesmo sendo um deserto ainda menos habitado e civilizado do que o planeta-natal do Anakin. Isso se deve simplesmente ao estilo de fotografia utilizado pelo Jar Jar Abrams, que deixou tudo muito mais colorido. A primeira cena em Jakku é nada mais do que um maluco da Resistência pegando um breguete que teria o mapa que levaria a resistência até Luke Skywalker.

O personagem do HAMILLZAÇO estava desaparecido em meio a uma treta maligna entre a Primeira Ordem, uma espécie de remanescentes do Império Galáctico e a Resistência, uma força militar da Nova República. A questão é que não é só a Resistência que estava atrás do Luke, mas a Primeira Ordem também. Num ataque liderado pelo Kylo Ren, o vilão da porra toda, eles chegam num baile de favela para tentar tomar o mapa que o piloto da Resistência teria conseguido. Depois de uma treta maligna, o tal piloto, Poe Dameron, consegue esconder o mapa no robô BB-8, que é uma espécie de resultado do relacionamento homoafetivo entre o C3PO e o R2D2. Dameron é capturado, mas o robô kawaii consegue sair correndo deserto adentro com o bagulho escondido. Ao saírem do planeta, Kylo Ren extermina todos os habitantes da vila que tinham invadido, algo que foi suficiente para um dos Stormtroopers se questionar se seguir tais ordens era correto.

É, robô fugindo com algo importante a mando do personagem bonzinho, que foi capturado pelos vilões. É tipo o começo de Uma Nova Esperança, só que bem feito.

BB-8 consegue fugir bravamente pelo deserto e encontra uma mocinha chamada Rey, que mora num tanque AT&T velho e vive da revenda de sucata enquanto espera pela sua família que a largou lá e nunca mais voltou. Ela e BB-8 viram amigos. Enquanto isso, Dameron é resgatado pelo Stormtrooper que tinha se mancado que o Kylo Ren era na verdade o vilão. Os dois conseguem escapar da nave, o que é suficiente para o vilão ter seu primeiro chilique de vários ao longo do filme.

O Stormtrooper até então não tinha nome e passa a ser chamado de Finn. Apesar de terem escapado, a nave dos dois sofreu avarias e caiu novamente no deserto de Jakku. Ao acordar, Finn não encontrou Dameron em lugar nenhum e, dado o estado da nave, acredita que ele bateu as botas. Só resta ao ex-trooper seguir em direção à uma pequena cidade onde eles, convenientemente, caíram nas redondezas.

Nessa brincadeira aparecem mais troopers atrás de Dameron e de Finn, que encontra Rey e BB-8. Numa bagunça lascada, eles escapam numa nave velha que calhou de ser a Millenium Falcon.

É, eles escaparam na Millenium Falcon fugindo dos vilões que os caçavam. É tipo o Uma Nova Esperança, só que bem feito.

Agora é quando o filme começa a mudar um pouco. A Millenium Falcon é meio que abduzida por uma nave maior, onde está Han Solo e seu ursão Chewbacca. Agora tem mais treta, mas, em resumo, Han, Rey, BB-8 e Chewbacca conseguem escapar na Millenium Falcon e ancoram num planeta chamado Takodana onde há um boteco desses para se conseguir suprimentos e informações. Enquanto eles estão por lá, a Primeira Ordem decide ativar sua nova arma – apesar de o filme falar que NÃO é uma nova Estrela da Morte, vai por mim, é uma nova Estrela da Morte, só que maior – que erradica uma porrada de planetas.

É, a arma-planeta foi ativada e destruiu planetas. É tipo o Uma Nova Esperança, só que bem feito.

Depois de erradicar alguns planetas aí, a Primeira Ordem parte para fazer um ataque eles mesmos, invadindo Takodana. Nessa brincadeira, Rey é sequestrada – depois de fugir porque não queria aceitar o chamado d’A Força, tem a cena mais caralhuda do filme, que é quando o Finn pega o Sabre de Luz e tenta brigar com um Stormtrooper que usava um cassetete elétrico, mas toma uma surra e só é salvo por um tiro de blaster. Quando a Resistência chega e a Primeira Ordem bate retirada, a Princesa Leia (que agora é general) chega para aliviar e a cena do reencontro dela com o Han Solo rola. Cena de reencontro com ex-mulher (ou até mesmo ex-namorada) é naquela pegada mesmo.

A questão é que A Resistência se reúne, percebem que a Primeira Ordem vai ativar a máquina de novo e precisam impedir. Além disso, teriam que resgatar Rey que está lá dentro, mantida sob o controle dos vilões.
É, é tipo a cena em que Han, Luke, Obi-Wan e Chewbacca invadem a Estrela da Morte. Igual à Uma Nova Esperança, só que bem feito.

Nesse lance de invasão aí eles conseguem desativar os escudos do Planeta, e outras naves invadem. Rey consegue escapar por conta própria ao testar rapidão um paranauê de Força e reencontra Han, Finn e Chewie. Aí eles começam a destruir a base por dentro. Han se depara com Kylo Ren e tenta dar um esculacho de pai e tal (Não sei se eu falei que o Kylo Ren é filho do Han com a Leia, mas estou falando agora). Quando eles iam se entender e tal, rola um HÁ, PEGADINHA DO MALLANDRO! Caio Renaldo apenas estava fingindo se entender com o papai, esperando o momento certo para dar o bote e fazer um oco no Indiana Jones Espacial – sim, o Harrison Ford faz o mesmo papel em todos os filmes, encare e aceite a verdade.

Dessa vez é mais parecido com O Retorno de Jedi, só senti falta de uns ursinhos bacanudos para ajudar. Tirando a morte do Han Solo, quando o velho da turma reencontra um ente querido que mudou de lado e bate as botas logo depois. Aí é tipo Uma Nova Esperança mesmo.

Nessa brincadeira a galera foge depois de explodir a bagaça toda, mas Kylo Reinaldo consegue seguir Rey e Finn. Rola uma treta de Sabre entre o ex-Trooper e Kylo, só que Finn toma uma surra cabulosa e a mocinha entra em ação, resultando numa pseudo-vitória de Rey, que consegue fugir com Chewbacca e Finn.

Tipo o outro filme lá, mas vocês já sabem, né?

Aí tem um pouco do Aftermatch. Leia chora e o R2D2 é reativado e está com o outro pedaço do mapa para encontrar Luke Skywalker. Chewbacca leva Rey até lá, eles se reencontram e fim. Destaque para o personagem do Hammil, que foi caracterizado como uma fusão Dragon Ball entre o Obi-Wan e o Anakin, com aquele cabelo e aquela barba, além da aparência de velho. Acabou.

O lance é que o filme é bom. Star Wars fez um rip-off de si mesmo, só que por alguém com capacidade. É um filme tecnicamente lindo. O Jar Jar Abrams usa uma fotografia minimalista característica que deu mais vida ao filme. São sempre cenários espaçosos, sejam eles internos, como a Starkiller, base da Primeira Ordem, ou externos, como o Deserto, mas com destaque em apenas uma coisa ou duas na tela. Geralmente pequenas, como é o caso de uma das cenas que me marcou, que é a Rey encostada no AT&T onde ela mora, no canto da tela e toda a imensidão arenosa ao fundo. Os filmes de Star Trek também têm essa característica.

E o bom é que o filme é diversificado. Você não fica de saco cheio por causa dos cenários que não se variam. No mesmo filme, passamos pela desolação de Jakku, pelo planeta florestal Takodana, pela base tecnológica Starkiller, que além de ter o ambiente interno, tem a tundra como bioma predominante. Quando eu pensava que Mad Max era o único filme no ano com uma fotografia realmente ousada e original, veio Star Wars.

Os detalhes do filme são impressionantes. São coisas pensadas de maneira minuciosa. Por exemplo, quando Rey e Finn roubam a Millenium Falcon, a moça acaba dirigindo aquela banheira sozinha. Como ela não tinha copiloto, a nave pendia para a direita, justamente o lado vazio onde não tinha ninguém para segurar o tranco. O sabre rústico do Kylo Ren também chama a atenção. Ele não é uma lâmina uniforme, tem várias irregularidades, serrilhado, como se o cabo estivesse jorrando aquele raio laser para as laterais por não conseguir segurar aquele poder todo.

O uso da Força nesse filme é excepcional. Além de empurrar coisas, levantar os inimigos pelo pescoço e outras besteiras, Kylo Ren, que é o único usuário de Força no filme que realmente sabe o que está fazendo, para um tiro de blaster e a utiliza para simplesmente paralisar os inimigos. E é sempre com violência, na pedreiragem.

O personagem do Carlos Reginaldo, inclusive, é muito curioso. Por ele eu tenho sentimentos variados. Digo, o estilo de luta dele é surreal, na base da pedreiragem mesmo, dando patada com o sabre e usando a Força para mais patada. O problema é que dá para ver que é um moleque tosco que não aceita ser contrariado. Uma das cenas mais geniais é quando ele começa a dar pití e os dois Troopers do lado de fora saem de fininho, fazendo sinal um para o outro, como se estivessem dizendo “ele está dando chilique de novo, vamos dar o fora rápido antes que sobre”. A aparência do maluco é foda também, no sentido negativo da palavra. Algo que eu chamo de Teen Hipster Severus Snape “mamãe quero ser Sith”.

Também gostei muito dos personagens novos. O Finn é um cara que realmente me surpreendeu. Apesar de ser muito aleatória essa vontade dele de se rebelar contra a Primeira Ordem, ele consegue carregar bem a história e não ser chato ou imbecil com umas piadinhas pontuais (APRENDE AÍ, MARVEL, SUA ESCROTA).

Também gostei muito da Rey. De verdade. O problema é a porra do plot armor que ela tem. Certo, ela é catadora e tudo bem ela entender de naves espaciais por lidar com sucata delas todo o dia. Tudo bem ela saber pilotá-las, porque vai tudo na base da teoria. Então, ela também é exímia atiradora, usa a Força e sabe bradar um Sabre de Luz da mesma forma que um cara que provavelmente fez isso durante a vida toda? CÊ É A BICHONA MESMO, HEIN? Não importa se o Carlos Ronaldo estava machucado já, nem o Anakin ou o Luke Skywalker faziam tudo isso desse jeito assim, logo depois de serem tirados da merda. No entanto, a personalidade dela é 10. Forte, independente, faz o que quer e isso me agrada mesmo, muito porque eu fico de saco cheio com princesa indefesa e todo o mimimi que vem com elas.

Falando em Princesa, isso me faz lembrar do drama todo entre a Padmé e o Anakin que, por sua vez, me faz lembrar que o próprio George Lucas criticou O Despertar da Força porque parecia Programa do Ratinho, algo que mostra que ele não faz ideia do próprio trabalho. Aliás, o criticismo todo do George Lucas acerca do filme só foi um indicador de que o filme seria bom, então eu estava com opiniões meio conflitantes.

Em resumo, o filme é bonzão. Não é original, mas se tratarmos tecnicamente, é o melhor de todos. Em questão de roteiro, a única coisa igualmente boa é a série animada do Tartakovsky. Conseguiram dar personalidade para os personagens e até mesmo para os Stormtroopers. Ah, como de costume, a trilha sonora também é brilhante. Destaque para a música de encerramento e o tema da Rey. Se eu já achava Uma Nova Esperança um dos melhores filmes, mesmo com seus defeitos, não tem motivo para não achar O Despertar da Força bom. Lógica simples.


Informações

  • Duração: 135 Min.
  • Ano: 2015
  • Direção: J. J. Abrams
  • Roteiro: J. J. Abrams, Michael Arndt, Lawrence Kasdan
  • Trilha Sonora: John Williams
  • País: Estados Unidos
  • Gênero: Aventura
  • Estrelando: Harrison Ford, Mark Hamill,Carrie Fisher, Adam Driver, Daisy Ridley, John Boyega, Oscar Isaac, Lupita Nyong’o

5 comentários sobre “Análise: Star Wars – The Force Awakens

  1. Achei o filme bom, o começo chega agitado e pa. Odeio jakku pq odeio deserto xD
    A Rey me agradou muito na personalidade, mas esse negocio de já vir nascida manjando das coisas achei meio exagerado.
    Finn foi menos bom que ela, aquele vai n vai dele é chat, mas depois que ele aceita que ta no meio da merda, ele fica beeeeeeem melhor.
    Poe tem as melhores cenas de interação de personagens com o Finn.

    Eu sai com a impressão de que o filme podia ser melhor, mas acho que é por causa do Severo Snape :c

  2. Vou esperar o filme sair em Tortuga pra assistir. Talvez o que emputeça o seu Jorge seja o fato de outros diretores terem mais capricho do que ele, mas também essa trilogia dos anos 2000 não é deplorável como a maioria urra por aí.

    Achei ela bem comum perante a antiga. Essa ira desmedida soa mais como direito conquistado de poder vomitar ácido porque o calango pôde assistir a trilogia clássica quando era molecote do que outra coisa.

    Espero que esse filme fuja bastante do dramalhão mexicano e foque mais na aventura com efeitos especiais de sobra, o fator realmente importante nesta franquia.

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